Todas as reportagens

Outras reportagens de: Exame

- Sem padecer no paraíso
- Nunca nada pra ninguém
- Apertem os cintos
- McDonaldização da economia
- Que horas serão em Srinagar?
- Vale o que vier
- Equilíbrio para o trabalho
- Como conquistar novos mercados
- Responda, por favor
- Casual complicado
- MBA com Shakespeare
- Separando os trapos
- Pega na superestrada
- Uma ONG para empreendedores
- Para onde foi o subúrbio?
- Para onde vai a fusão?
- Alugam-se maridos
- Antena ligada
- A vantagem de ter um mentor
- Corações partidos em Wall Street
- 100 000 pessoas trabalhando de graça
- Tapete voador
- Gestão esperta
- Milagre no Bronx

Arte para workaholics
01.novembro.2000

Tania Menai, de Nova York

Se você acha que o trabalho está ocupando mais e mais espaço na sua vida, ainda não viu nada. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) está programando uma exposição que é o sonho de qualquer workaholic: a Worksphere (esfera de trabalho), que começa dia 8 de fevereiro, vai abordar como o ser humano poderá se concentrar nos seus afazeres profissionais mesmo estando em casa, no avião, na rua, ou até mesmo em cima de um cavalo, como ilustra um anúncio da Toshiba.

"A maneira como trabalhamos é o que dá forma às nossas vidas", diz a italiana Paola Antonelli, curadora do departamento de arquitetura e design do MoMA. Ao pesquisar sobre o tema, Paola diz que só encontrou livros com cara de trabalhos acadêmicos. Por isso, pautou alguns dos designers e arquitetos mais criativos do momento com temas como trabalho em casa, nos meios de transporte, nos espaços minúsculos, na rua.

Segundo ela, o futuro da maneira de trabalhar já é um tema bastante abordado e discutido nesse meio, e uma das conclusões é que o espaço do escritório ainda é importante, mas ele pode ser levado e adaptado para qualquer lugar. Uma das invenções é "My Soft Office" (meu escritório leve), desenhado pela holandesa Hella Jongerius, que incorpora o trabalho aos confortos do lar. Por exemplo, em "Bed in Business" (cama no negócio) ela equipou uma cama com uma interface conectada à Internet. Sem falar nos travesseiros que contêm teclado, telefone e microfone. O revestimento do chão da casa é feito de gel, para que até este seja um lugar para produzir. Mesmo com toda essa tecnologia, Hella manteve o aspecto aconchegante do ambiente, em vez de transformá-lo na casa dos Jetsons.

Para os nômades, o barcelonês Martí Guixé reduziu as parafernálias de um escritório a tamanhos minúsculos que cabem no bolso. Seu projeto também é a salvação para os que consideram o almoço um luxo dispensável: a comida criada por Guixé, algo que lembra refeição de astronauta, envolveu consultoria de nutricionistas e antropologistas. "Quando viajamos, a primeira preocupação é a comida. Nem sempre vamos a lugares onde os alimentos são apreciáveis", diz.

Os nova-iorquinos, que moram em caixas de fósforo e muitas vezes trabalham enclausurados em casa (como esta repórter que vos escreve), e os californianos, que costumam começar suas empresas em garagens, também foram lembrados. Os designers da LOT/Ekarchitecture, de Nova York, bolaram um ambiente de trabalho dentro de um contêiner, cujo espaço é do tamanho de uma cabine de avião e é móvel (pode ser levado para o jardim, para a rua ou para dentro do escritório) e versátil o suficiente para concentração, relaxamento, criatividade e, claro, privacidade. Para se comunicar com o resto do planeta Terra, basta abrir a parte superior do contêiner. O projeto foi feito em parceria com a Sony e, no momento, busca fabricantes.

Para os fanáticos com tempo e informação, os designers John Maeda e Joe Paradiso estão trabalhando em conjunto com os cérebros do MediaLab do MIT, em Boston, numa engenhoca que engloba telefone celular que organiza o tempo e o arquivo de dados.

Já os bichos-do-mato ou os distraídos foram beneficiados pela idéia do japonês Naoto Fukasawa: isolar os indivíduos do mundo corporativo - ou do universo em geral. Um "robô territorial" vai determinar onde começa o seu espaço e onde termina o dos outros dentro do escritório, além de a sua mesa ser equipada de modo que você só escute a voz de quem estiver em frente dela. A gritaria ao redor será coisa do passado.

Com tanta tecnologia, só faltou um designer baiano para projetar um escritório nas areias de Itaparica.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

---

voltar