Nunca nada pra ninguém
24.janeiro.2001
Tania Menai, de Nova York, e David Cohen
Eles são jovens, ricos, poderosos e influentes. E têm um clube só para eles. É a YPO, iniciais em inglês de Organização de Jovens Presidentes, uma associação sem fins lucrativos que reúne donos e presidentes de algumas das melhores e maiores empresas do mundo. Os integrantes se comportam como maçons: ninguém abre a boca sobre o que acontece nos encontros. Um dos lemas mais caros à YPO é "Nunca nada para ninguém", ou seja, o que é dito nas reuniões do grupo não vaza de jeito nenhum.
A organização detesta aparecer, embora tenha um site bastante informativo (www.ypo.org). "Não é que não gostemos de falar do trabalho que fazemos, é que a YPO é uma organização muito seleta, muito exigente nos critérios de admissão. Queremos evitar o assédio de candidatos, para prevenir o constrangimento de pessoas que não cumpram todos os requisitos para se associar", diz o gaúcho William Ling, presidente da empresa de embalagens e derivados de plástico Petropar, responsável pela YPO no Brasil.
Criada em Nova York em 1950, a YPO reúne líderes empresariais do mundo todo cujas empresas, juntas, giram cerca de 2 trilhões de dólares por ano e empregam 8 milhões de pessoas em mais de 70 países. A organização tem pouco mais de 8 000 associados, a maioria nos Estados Unidos. Ela existe no Brasil desde o começo da década de 70 e tem aqui um pouquinho menos de 180 sócios, com regionais em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Há planos de começar a organização de novas regionais.
"A YPO foi uma das melhores experiências da minha vida empresarial. A rede de contatos exclusiva me deu acesso aos melhores homens de negócios e às melhores fontes de informação do cenário corporativo mundial", diz o empresário paulista A., que tem 27 anos de carreira e vai ter de se desligar da YPO porque está virando cinqüentão (nessa idade os sócios são desligados e têm a opção de se filiar à WPO, Organização Mundial de Presidentes). Não são só oportunidades de negócios que a YPO oferece. A proposta é tornar os associados melhores chefes de família, melhores chefes de empresa e melhores cidadãos.
"Há benefícios de toda ordem: desenvolvimento pessoal e profissional, troca de idéias entre iguais sobre problemas comuns, tudo", diz o sócio F., dono de uma grande empresa brasileira. "Nos fóruns reúnem-se todo mês de 10 a 12 pessoas, sob juramento de silêncio, para discutir assuntos diversos, como se fosse uma terapia de grupo." Nesses fóruns, é freqüente que se discutam questões como a opção profissional de um alto executivo, se vale a pena ele largar o emprego para montar uma empresa ou aceitar uma oferta de trabalho. Há casos em que o contrato inteiro chega a ser redigido pelos colegas YPOs.
Também se discutem problemas de saúde, casos de divórcio e até dramas pessoais, como ter um filho viciado em drogas. "Estar no topo é uma situação muito solitária. É difícil encontrar alguém para dividir aquelas preocupações que nos causam insônia", diz o empresário A.
Para garantir a coesão dos grupos, sua formação obedece a uma espécie de ritual. Primeiro, pessoas de empresas concorrentes não ficam no mesmo fórum. Cada nome adicionado à lista é passado para todos do grupo. Se alguém tiver qualquer restrição ao candidato, ele não entra.
A maior parte dos sangue-azul da YPO é de donos ou presidentes de empresas cuja receita mínima anual é de 5 milhões de dólares - e todos só entram no clube a convite, não adianta pedir ingresso. Além dos pequenos grupos de apoio, fóruns nacionais e internacionais discutem os principais desafios da economia atual, como abertura de capital, relações internacionais ou desenvolvimento tecnológico.
Segundo os participantes, essa é a pérola da organização. Eles têm alianças com instituições de ensino como as americanas Harvard Business School, Wharton e Universidade da Califórnia e com o International Institute for Management Development (IMD, Instituto Internacional de Desenvolvimento de Gestão), da Suíça.
Outra vantagem é uma base de dados enorme. "Os membros da organização podem fazer consultas sobre qualquer tema, desde saúde até engenharia, finanças ou marketing, e sócios do mundo todo que tenham qualificações naquela área respondem em no máximo 72 horas. Já utilizei e foi muuuuito benéfico", diz F.
A YPO também promove eventos sociais que englobam a família, além de encontros só para as mulheres dos executivos. No fim do ano passado, um grupo de 90 pessoas, entre associados e familiares, passou uma semana em Fernando de Noronha e numa praia perto de Recife, com direito a palestras do guru de auto-ajuda Roberto Shinyashiki e de um economista do Citibank.
Para manter as atividades, os membros do mundo todo pagam uma taxa anual de 1 500 dólares. São cobradas taxas avulsas para eventos extras, como o que aconteceu no ano passado num pomposo hotel de Roma. O salão de conferências foi tomado por velas e incensos enquanto 17 presidentes de olhos vendados deitavam sobre toalhas, respiravam fundo e tentavam entrar em alfa ao som de um tambor. O líder do grupo era Richard Whiteley, um consultor diplomado em Harvard e autor de best-sellers sobre administração.
A fórmula da YPO, baseada na educação e na rede de relacionamentos, dá tão certo que a filosofia está se espalhando. Empreendedores de talento contam desde 1987 com a Young Entrepeneur Organization (YEO, Organização de Jovens Empreendedores), também sem fins lucrativos e fundada nos Estados Unidos. Para ser indicados e aceitos, os membros devem ter no máximo 38 anos, ser fundadores, co-fundadores ou acionistas majoritários de um negócio de pelo menos 1 milhão de dólares em vendas brutas por ano. Hoje, essa é a maior organização para empreendedores no mundo, com 3 500 membros em 90 grupos em diversos países. Os associados têm negócios cujas receitas vão de 1 milhão a 1,3 bilhão de dólares por ano. Quer entrar no clube?
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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