Ganhar lá, gastar aqui
18.abril.2001
Tania Menai, de Nova York
Os Estados Unidos são o país que mais faz filantropia, não só em doações com em trabalho voluntário. Só em 1999, os americanos gastaram 190 bilhões de dólares em doações, ou 2% da receita nacional. Além disso, 49% dos americanos se envolveram em atividades voluntárias em 1995, ano da pesquisa mais recente realizada pela Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector. "Além do lado generoso e da tradição anglo-saxônica de filantropia, os americanos são incentivados pelo fato de que suas contribuições são dedutíveis do imposto de renda", afirma o advogado Marcello Hallake, 31 anos, do escritório Coudert Brothers, de Nova York. "Nos países latinos, espera-se mais do Estado. O Brasil, por exemplo, não tem um incentivo fiscal como este."
Foi dessa diferença cultural e política que surgiu a idéia de criar uma fundação para arrecadar doações nos Estados Unidos e investir em projetos sociais no Brasil. A organização sem fins lucrativos Brazil Foundation, ou Fundação Brasil (www.brazilfoundation.org), nasceu em junho, em Nova York, com o objetivo de selecionar as melhores organizações não governamentais brasileiras sem vínculo político ou religioso que tenham impacto social, transparência e solidez comprovados nas áreas de educação, cidadania, direitos humanos, saúde pública e cultura. A partir daí, a fundação viabiliza tecnologia e apoio financeiro vindo de brasileiros que residem e pagam impostos nos Estados Unidos, de empresas brasileiras que atuam em solo americano e de empresas americanas que atuam no Brasil. "Esta é uma ótima chance para as companhias americanas interessadas no Brasil melhorarem a imagem perante os brasileiros. Várias fazem filantropia somente nos Estados Unidos.
Existem pouquíssimas doações para fora do país", diz Hallake, carioca criado na Bélgica, um dos três diretores da fundação.
A fundação também espera atrair a ajuda de brasileiros que moram nos Estados Unidos. A vantagem para eles é que todas as doações são abatidas do imposto de renda. Só na região da Nova Inglaterra, ao norte de Nova York, há 2 000 estudantes brasileiros de pós-graduação e doutorado. É gente da elite intelectual, e muitos não voltam mais para o Brasil. "Estamos contatando brasileiros de todas as partes dos EUA", diz a jornalista brasileira Leona Forman, presidente e executiva-chefe da fundação. Recém-aposentada de uma carreira no Departamento de Informação Pública na ONU, foi ela quem criou a Fundação Brasil. "Morei com minha família no Brasil durante 13 anos. Pretendo devolver ao país tudo de bom que ele fez por nós."
No conselho da Fundação Brasil estão a primeira-dama, Ruth Cardoso, o historiador inglês Kenneth Maxwell, o embaixador do Brasil na ONU, Gelson Fonseca Jr., e o economista Edmar Bacha.
Uma das atividades da fundação é a promoção de palestras para expor o sucesso de alguns projetos feitos no Brasil. Há duas semanas, Cristovam Buarque, da Missão Criança, falou sobre a bolsa-escola para um público de 45 pessoas, incluindo estrangeiros apaixonados pelo Brasil. Cerca de 50 jovens profissionais bem-sucedidos em Nova York estão doando seu tempo e seu talento à fundação. "Nunca me motivei tanto em ajudar o Brasil", diz a designer carioca Ácia Stern, que concebeu a colorida logomarca da fundação, além de transformar seu aniversário num evento de captação de recursos. Avisou às amigas que, em vez de presentes, aceitava doações. Num chá da tarde, arrecadou 700 dólares. "Enquanto os brasileiros enviam dinheiro para suas famílias, outros grupos étnicos nos Estados Unidos, como mexicanos, indianos, cubanos, chineses ou judeus, canalizam a ajuda para projetos comunitários. Nossa intenção é incentivar essa cultura tanto aqui quanto no Brasil", diz Hallake.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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