Todas as reportagens
Outras reportagens de: no.com.br
- Oficialmente mortos
- Fuga sobre rodas
- Dia especialmente escolhido
- A caipirinha dos sarados
- Rudy, expulso de casa e sem herdeiro
- Paz no Oriente Médio
- Seda, perfume e sangue
- O quê, meu rei?
- Todo mundo foi
- O 'darling' brazuca
- O avesso da notícia
- Pulitzer em foco
- Arte em série
- Nova York, para sempre
- Músico incidental
- O Harlem não é mais aquele
- O Rio para inglês ver
- Fábrica de idéias
- Morte ronda o MIT
- Movimentos da intuição
- A bíblia da boa mesa em Nova York
- Os top de linha da mídia
- Eu, eu mesma, Luana
- Faro fino
|
Vale a pena ver de novo
25.abril.2001
Tania Menai
Aconteceu em 1989. O fotógrafo americano David Turnley circulava por um museu de Nova York, quando soube que uma rebelião tomova conta de Berlim. Pegou o primeiro avião e posou na cidade alemã a tempo de clicar o esfacelamento do Muro. No ano seguinte, sua foto, foi premiada com o Pulitzer Prize. “Dizem que nos EUA existem muitos prêmios. Mas precisamos deles em todas as áreas para reconhecermos a excelência”, diz Eric Newton, historiador e curador do NewseumIwo Jima. Esta se tornou a imagem mais reproduzida da Segunda Guerra Mundial.
Grande parte das fotos premiadas pelo Pulitzer embrulham o estômago. “Este foi o século mais sangrento da história da humanidade”, explica Newton. “Não podemos culpar o mensageiro pelo fato de algumas dessas fotos serem difíceis de se olhar”. Segundo ele, seria mais coerente se perguntar como sociedade global, o que fizemos para tornar este pedaço da história tão violento e o que fazer para que este século seja melhor. Ao mesmo tempo, estas fotos nos mostram o que mudou e o que estagnou nestes últimos cinqüenta e poucos anos no cenário doméstico americano. No ano passado, a equipe de fotógrafos do jornal Denver Rocky Mountain News Denver Rocky Mountain News ganhou o Pulitzer pelas fotos dos estudantes da Columbine High School, logo após dois estudantes terem fuzilado seus colegas e se matado. O sangrento episódio fez o país levantar a discussão sobre o acesso de crianças às armas de fogo. Só que esse problema não é de hoje: em junho de 1947, Frank Cushing, do jornal Boston Herald, fotografou um garoto de 15 anos armado segurando um outro da mesma idade como refém, depois de ter atirado num policial. Cushing se posicionou tão perto da cena, que ele mesmo poderia ter levado um tiro. No fim, levou um Pulitzer.
Outras fotos apontam algum progresso na sociedade, como no campo dos direitos civis. A primeira, feita em 1951, mostra um jogador de futebol americano branco, em campo, dando uma cotovelada no queixo de um negro do time oposto. O queixo ficou esmigalhado. Ninguém sabia o que tinha acontecido até as fotos, clicadas em série, serem estampadas na manhã seguinte no jornal Des Moiens Register. Outra fotografia histórica foi feita em 1966, quando apenas 12 mil dos um milhão de negros do Mississipi eram registrados para votos eleitorais. Com o intuito de mudar a situação, James Meredith, um ativista e advogado negro, iniciou uma marcha de 354 quilômetros numa estrada do estado. Acabou levando um tiro na perna no meio do caminho. Jack Thornell, da AP, registrou a cena. A segregação racial no país ainda está longe de ser um mar de rosas, mas os negros vêm conquistando direitos e dignidade.
O conjunto das imagens premiadas pelo Pulitzer está longe de ser uma enciclopédia da segunda metade do século 20. Nem é esta a intenção. Existem fotos memoráveis que ficaram de fora. Uma delas é a chegada do homem à Lua, em 1969. A imagem que saiu nos jornais era imprecisa e tecnicamente imperfeita. “Mas foi uma foto apropriada: esta imprecisão significa que chegamos lá com grande dificuldade. Às vezes as fotos são assim porque devem ser”, diz Newton. Contudo, elas nos dão uma idéia do que se veiculou na mídia desde 1942, incluindo as primeiras páginas. São imagens com poder de afetar a vida dos que as vêem, dos que estão nas fotos e dos fotógrafos. Para se capturar “o” momento, é preciso vivenciar todo o resto. Eddie Adams, da AP, autor da famosa foto de um policial vietnamita levantando a arma para a cabeça de um prisioneiro compatriota (o qual havia aniquilado a família inteira de um general), em Saigon de 1968, é amigo do tal policial até hoje. Da mesma forma, Nick Nut, também da AP, mantém contato com Phan Thi Kim, a menina fotografada por ele em Saigon, em junho de 1972, quando corria de uma explosão gritando “Quente! Quente!”. Nick derramou água de seu cantil em suas costas, e, com ajuda do pai da menina, colocou-a em sua van. A foto foi quase vetada, pois a menina estava nua. Mas o editor de fotografia, vencedor do Pulitzer anos antes, fez prevalecer a história. Por sinal, estas fotos ilustram a importância da cobertura da Guerra do Vietnã pela imprensa americana. De 1964 a 1974 o Pulitzer premiou fotos e/ou reportagens sobre o assunto, salvo em 1967 e 1971.
A primeira foto premiada na categoria de matéria especial, em 1970, registrou o nascimento de um bebê para o Topeka-Capital Journal, do Kansas. A novidade era a filosofia Lamaze e os pais na sala de parto. Curiosidade à parte: hoje, a mãe da criança é casada com o fotógrafo Brian Lanker. Já o fotógrafo sul-africano Kevin Carter não teve um final tão feliz. Em 1993, foi enviado pela agência Sygma para o Sudão, país devassado pela fome. No vilarejo de Ayod, ele registrou uma menina raquítica, se rastejando em direção ao um posto de alimentação. Um urubu a observava, como se estivesse pronto para devorá-la. Carter espantou a ave, mas não ajudou a menina: estrangeiros eram aconselhados a não tocar nos nativos para não contraírem doenças. A foto, publicada mundialmente, virou símbolo da fome no continente. Premiado pelo Pulitzer, Carter, que fazia parte do grupo de fotógrafos de guerra Bang-Bang Club foi a Nova York, pela primeira vez, para receber o prêmio. Ao retornar a Johannesburgo, viu um amigo morrer num sangrento conflito do Apartheid, o qual eles foram cobrir. Tragédia que, somada à culpa de não ter ajudado a pequena sudanesa, o levou ao suicídio em julho de 1994.
David Turnley, nosso herói do primeiro parágrafo, contou numa palestra em Nova York que há não muito tempo, ele levava duas horas para transmitir uma foto para a redação. Por meio de uma linha telefônica (que no meio de guerras e terremotos são escassas e ineficientes), as imagens eram transmitidas cor por cor. “Aprendi a dormir no telefone e acordar com o ‘clic’ entre uma cor e outra”, lembra ele. Hoje, a tecnologia digital o permite enviar diversas fotos em segundos. “Mas isso é só um detalhe”, diz ele. “O que conta é a essência e a devoção pelo trabalho”. E quando o filme da máquina termina na hora H? Pergunte a Robert Jackson. Era 1963, em Dallas. A poucos metros do carro aberto no qual o presidente John Kennedy desfilava, ele resolveu trocar o filme no exato minuto em que o presidente levou um tiro na cabeça. Azar é pouco. Dois dias depois, Jackson foi acompanhar o assassino de Kennedy, Lee Harvey Oswald, ser transferido de cadeia. Imprensa aglomerada, um indivíduo chegou pela esquerda de Jackson e atirou em Oswald. “Minha câmera e o tiro foram disparados no mesmo instante”, lembra ele. Jackson estava tão perto da cena (3 metros) que foi retido como testemunha. Mergulhado num mar de ansiedade, ao voltar à redação do Dallas Times-Herald, Jackson ainda escutou do editor de fotografia: “E aí, Bob? Tem alguma coisa que preste
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
---
voltar |



|