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O 'darling' brazuca
12.maio.2001

Tania Menai

Quinze minutos de almoço em Nova York é luxo. Para alguns, até milagre. Não há nada que venda mais nesta cidade do que refeições “take-out”, ou para viagem. Talheres são dispensáveis. Engole-se calorias nas calçadas, nos parques, nos pontos de ônibus. Pegando carona, as revistas locais trazem seus “guias dos melhores restaurantes do gênero para famintos apressados” - as edições voam das bancas mais rápido que batata frita do McDonalds. Esta semana, a bíblia semanal “New York Magazine” lançou sua versão, listando em 30 páginas os mais rápidos, ecléticos e ecumênicos cardápios da cidade: de mexicano a tailandês. O tempero brasileiro ficou por conta das fotos, incluindo as da capa –todas assinadas pelo paulista Carlos Emilio.

Aos 36 anos e diplomado em fotografia pela Parsons School of Design desde 1992, Carlos só dispara seus flashes para o crème de la crème do mundo editorial, como as revistas brasileiras “Vogue” e “Casa Vogue”, as americanas “Time Out”, “El Decor”, “House Beautiful”, “New York Times Magazine”, “O” de Oprah Winfrey, a inglesa “Arena”, a “Vogue” japonesa, a alemã “Architecture Digest”, a “Ducth” e a “Home Style”, a ser lançada em setembro. “Tenho feito retratos, fotos de interiores e de viagens”, diz ele, que foi considerado por editores o mais versátil fotógrafo nova-iorquino. “Não sou especializado em fotografia de alimentos, mas a ‘New York Magazine’ me convidou para este trabalho por causa do meu conceito de design”, conta o fotógrafo. E acertaram em cheio. As lentes de Carlos conseguiram transformar em arte “clean”, aquelas refeições com gordura e sem glamour, servidas em prato de papelão e que, em vez de abrir o apetite, embrulham o estômago.

Bem instalado num loft na rua 30 entre as avenidas Quinta e Madison, Carlos conta que a jornada dos fotógrafos em Nova York é árdua. “É uma batalha diária. Muitos dos colegas que se formaram comigo desistiram no meio caminho. Tive sorte de colocar o pé na ‘Time Out’ logo depois me formar”. No ano passado, Carlos assinou contrato com Tom Brooth, um dos agentes mais influentes do mercado editorial dos Estados Unidos –o mesmo que representa o japonês Hiro, fotógrafo ícone da década de sessenta e setenta. “Brooth traçou uma estratégia na minha carreira, reformulou o meu book e me proíbe aceitar trabalhos que não sejam para revistas de primeira linha”, diz Carlos. “Só trabalho para publicações ‘A’. Às vezes fico sem trabalho, mas ele não me deixa fazer trabalhos para revistas ‘B’”.

Segundo Brooth, esta edição da “New York Magazine” coloca Carlos no primeiro time dos fotógrafos da cidade. “A produção desta matéria envolveu uma equipe grande e muito boa –estilistas de comida, assistentes, diretores de arte e até o diretor da revista. Foi uma megaprodução, num super-estúdio de Nova York”, diz o fotógrafo. “Para a revista, esta é uma das edições que mais vendem. As fotos fizeram a matéria crescer tanto que a publicação foi adiada duas vezes. Eles tiveram de vender mais publicidade para publicar todas as páginas”, orgulha-se.

Depois de se formar, Carlos chegou a voltar para o Brasil. Mas não se encantou. Hoje ele mantém um bom relacionamento de trabalho apenas com o editor da “Vogue”. “Preciso dessa confusão de informação que existe em Nova York. Vou a cinema, teatro e não perco uma exposição. Nesta profissão, tudo o que acontece à nossa volta torna-se referência. A gente se renova com tudo. Não podemos nos concentrar apenas no que estamos fazendo –caso contrário, nosso trabalho envelhece muito rápido”. Ele ressalta que os “fotógrafos do momento” têm vida curta, dado que em Nova York tudo é efêmero. Por isso, Carlos optou por um trabalho diversificado, sempre mirando em novas possibilidades. Influenciado por fotógrafos como os contemporâneos Bruce Weber e Annie Leibovitz, além dos antigos David Bailey e Jacques Henri Lartigue, as fotos de Carlos também invadem galerias. Há dois anos, ele montou a exposição “Innerscapes” , com fotos de paisagens naturais abstratas tiradas em diversas partes do mundo. A galerista o descreve como um “barroco minimalista”: emotivo e apaixonado, ele é um barroco de espírito; mas minimalista de estilo. “A próxima exposição tratará de close-ups de pedaços de bilhetes que amigos me escreveram”, revela ele, que se inspirou no pintor abstrato americano Cy Twombly. “Vou focar nas imagens das linhas que formam as palavras escritas à mão –cada foto será um fragmento de uma história que só a exposição completa vai contar”.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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