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Chamem os profissionais
05.setembro.2001

Nova York caça professores

Tania Menai, de Nova York

Os Estados Unidos começam nesta quinzena mais um ano letivo. Mas quem terá de fazer dever de casa é o sistema educacional público: a tarefa é atrair novos professores para as salas de aulas. Até o ano 2010, os Estados Unidos perderão 2,2 milhões de professores da rede pública. Só este ano, 55 000 deles se aposentam. Sem contar os que estão partindo para as escolas particulares ou os que penduraram as chuteiras, cansados da jurássica burocracia do sistema de ensino.

A falta de professores tomou uma proporção tão grande que algumas cidades decidiram adotar programas alternativos, quase de emergência, com o objetivo de arrancar mentes brilhantes e inovadoras de outras áreas - incluindo o mundo corporativo - para oxigenar a corrente sanguínea das escolas públicas. É um esforço e tanto. Dos 2,8 milhões de professores de escolas públicas do país, apenas 5% vêm de outras carreiras. O restante tem diploma em educação, ou nem isso.

Atrair profissionais de empresas não é apenas uma questão de tapar o buraco do ensino. É uma tentativa de melhorar também a qualidade, importando a seriedade do mundo corporativo e arregimentando gente de nível cultural mais alto.

É o caso da iniciativa New York Teaching Fellows. O sistema de ensino público de Nova York é o maior dos Estados Unidos, com cerca de 1,1 milhão de estudantes e um orçamento de 9 bilhões de dólares anuais. Só este ano, a cidade precisa de 8 000 novos professores. O programa alternativo, organizado pelo Conselho de Educação, começou em 2000, recrutando 350 profissionais. Este ano, o número saltou para 1 150. Todos já estão prontos para encarar as feras mirins na próxima semana. Após uma árdua seleção, eles tiveram sete semanas de treinamento intensivo no verão e ainda terão de fazer mestrado em educação no turno da noite, no primeiro ano do programa. Nova York vai desembolsar pelo menos 25 000 dólares com cada novo professor, para os programas de atração e treinamento.

Os participantes são alocados nas escolas campeãs em resultados catastróficos. Uma delas, a Public School 161, fica no Harlem Hispânico, onde as crianças enfrentam problemas de idioma. "Dez dos nossos 75 professores vieram do New York Teaching Fellows", diz Barbara Brown, a diretora da escola, que tem 860 alunos de 4 a 12 anos. O grupo - seis mulheres e quatro homens, com idades de 26 a 49 anos - veio de áreas como marketing, direito, jornalismo, fotografia e até da Marinha. "Os participantes são bastante idealistas", diz Barbara. "Eles trouxeram o nível de profissionalismo do mundo corporativo americano e uma mistura étnica que representa a realidade social. Antes, as crianças só tinham professores hispânicos."

Certamente não é o salário que motiva os novos professores. O pagamento varia de 31 000 a 40 000 dólares anuais, menos da metade do que se paga a um advogado recém-formado numa universidade de ponta. "É a vontade de ver uma sociedade melhor", diz o professor Fernando Kim, de 24 anos, ex-cordenador de projetos numa empresa de comunicação.

Outro exemplo de novo professor é Steven Kameika, que trabalhava num banco, no setor de hipotecas. "Pertenço à ‘Geração do Eu por Mim’, mas depois de me afundar durante 19 anos em margens de lucros e regulamentações senti que era hora de fazer alguma coisa pela sociedade", diz. "Não é fácil ensinar, mas as crianças fazem todo o esforço valer a pena." A mesma satisfação é revelada por James Folgel, de 50 anos. Segundo a revista Time, ele largou a carreira de advogado criminal, que lhe rendia fortunas em Nova York, para ensinar suas matérias prediletas: matemática e física. "É uma função ainda mais nobre e necessária do a que eu tinha", diz Fogel.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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