Um caso de empreendedorismo aplicado ao Bem
23.janeiro.2002
Vagas para jovens de futuro duvidoso
Por TANIA MENAI, de Nova York
EXAME Edição(758) Tyquan Hunter é americano, tem 21 anos, trabalha com internet e mora sozinho num apartamento em Nova Jersey. Ele seria mais um garotão num perfil padrão, não fosse sua origem. Hunter nasceu e cresceu no Harlem, uma das comunidades mais pobres de Nova York. Não teve uma educação de primeira, muito menos apoio familiar. Conquistou o que tem hoje com uma só ferramenta: sua determinação. Seu caso de sucesso é apenas um entre os vários da CitySoft, uma empresa americana de desenvolvimento tecnológico que acredita ser possível crescer ajudando a construir carreiras para jovens de comunidades não privilegiadas.
Tudo começou quando Nick Gleason, hoje com 31 anos, estava no MBA da Harvard Business School. Enquanto seus colegas respiravam consultorias e bancos de investimento, ele se preocupava com o aspecto social dos negócios. Gleason já havia trabalhado com comunidades pobres em diversas partes dos Estados Unidos. Na Costa Leste, engajou-se numa organização que constrói casas populares no mundo todo. Depois arregaçou as mangas como consultor auxiliando empresas a seguir esse caminho. Mais tarde, optou pelo MBA para tirar do papel o sonho de criar oportunidades para jovens com futuro duvidoso. "Analisei vários setores e até um sistema bancário para comunidades carentes", disse a EXAME em seu escritório em Nova York, a cinco quadras do extinto World Trade Center. "Descobri que em tecnologia o jovem pode criar uma carreira que desenvolva suas habilidades no longo prazo."
A CitySoft nasceu em 1997, tem 30 funcionários e cerca de 20 clientes. Entre eles, Reebok, AOL Time Warner e Siemens. Paralelamente às suas funções de principal executivo, Gleason coordena a ONG CitySkills, que prepara jovens para trabalhos ligados à tecnologia. "Ter um emprego faz que o indivíduo acredite num futuro e numa vida familiar estruturada", afirma. "Quando há empregos, as comunidades não sobrecarregam outras organizações e a sociedade funciona melhor."
A equipe da CitySoft garimpa jovens em centros de treinamento e escolas técnicas de grandes cidades. Eles precisam ser motivados e interessados em tecnologia. É o caso de Israel Melendez, do East Harlem, em Manhattan, descoberto num curso de programação. "Ele tem paixão pelo que faz", diz Gleason.
Jovens com o perfil de Melendez e de Hunter formam metade da empresa. Eles ingressam nos níveis mais básicos, vão escalando a área técnica, de webdesign e de processamento de dados e chegam a gerentes de projetos ou de contas. Muitos estudam à noite. Outros resolvem, depois de algum tempo, interromper o trabalho para fazer faculdade. "A convivência desses meninos com o resto da equipe beneficia tanto a empresa como os clientes", diz Gleason. "Eles trazem uma nova energia e, sobretudo, uma grande visão."
Em outubro passado Gleason foi considerado, pelo Boston Business Journal, um dos 40 líderes de destaque nos Estados Unidos com menos de 40 anos. Sua história também foi digna de um capítulo inteiro no livro Making a Life, Making a Living (Construir a vida ganhando a vida), de Mark Alboit, consultor de empresas entre as 500 maiores da revista Fortune.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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