Sexo implícito
02.outubro.2002
O MoSex, o mais novo museu de Nova York, avisa: é educativo e não quer chocar ninguém
Tania Menai, de Nova York
Quem passa em frente mal percebe. Mas o prédio de três andares e vidros opacos na esquina da Rua 27 com a Quinta Avenida sedia, desde a semana passada, um acervo de arregalar os olhos na Nova York pós-varredura moralista do ex-prefeito Rudolph Giuliani: o Museu do Sexo, MoSex para os íntimos. O conceito, naturalmente, é muito mais elevado e educativo que o de seus congêneres em Amsterdã, Barcelona, Berlim, Copenhague, Hamburgo e Paris. Ou seja, quem for lá para ver bandalheira vai ter de levar junto considerações sociológicas e outras variantes de papo-cabeça. "Seremos o Museu Metropolitan do sexo", acredita seu diretor, Daniel Gluck. "Existem muitos estudos fascinantes sobre o assunto, mas eles não são acessíveis às grandes massas", acrescenta o curador Grady Turner. "Esperamos que o MoSex cumpra essa função." A exposição de inauguração, em cartaz até julho do ano que vem, mostra, através de objetos, fotos e gravuras, "como Nova York transformou o sexo nos Estados Unidos".
O museu é um empreendimento particular, dividido em três galerias. A primeira é dedicada à história do sexo na cidade. Mostra como eram as prostitutas na virada para o século passado (vestidas de alto a baixo, sempre com sombrinhas), exibe fotos de 1894 de um fisiculturista inteiramente nu e conta a trajetória de figuras como o alemão Julius Schmid. Imigrante paralítico que chegou à cidade no fim do século XIX, Schmid arrumou emprego em uma fábrica de lingüiças, de onde surrupiava o envoltório para fabricar camisinhas, tornando-se milionário no ramo. Parte do material vem da documentação coletada por Anthony Comstock, um balconista que, na mesma época, se lançou numa fanática e puritana cruzada. Como prova da esbórnia, ele amealhou documentos fascinantes, inclusive uma coleção de postais franceses de cair o queixo. Também muito contribuiu o colecionador Ralph Whitton, de quem o museu adquiriu um enorme acervo montado ao longo de quarenta anos, com 1.500 revistas, 700 vídeos, mais de 400 filmes e 200 livros, além de bonecas infláveis, artefatos eróticos e sapatos de salto agulha em quantidade.
A galeria seguinte, Flesh (carne, em inglês), traz quadros de mulheres seminuas, filmes pornográficos da época do cinema mudo e fotos de clubes como o Pandora's Box, casa de sadomasoquismo onde sexo era proibido e as mulheres jamais apareciam nuas. Um dos destaques dessa seção são os primeiros números do gibi Mulher Maravilha, heroína dos anos 40 que falava aos instintos masoquistas dos apreciadores do gênero. "Ela estava sempre amarrando e espancando alguém", atesta Turner. Por fim, a galeria Safe (seguro) trata dos novos tempos pós-Aids. Rejeitado como empreendimento por investidores americanos, o MoSex foi quase todo financiado por europeus e canadenses. Duas de suas características são inéditas na cidade: menores de 18 anos não entram e o ingresso custa pesados 17 dólares. Informação para quem tiver maus pensamentos: a lojinha só vende livros.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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