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Guerra no Planeta da Diversão
05.maio.2005

Disney War revela conflitos no reino da Disney

Tania Menai, de Los Angeles


“É impossível negociar com Steve Jobs. Ele é um xiita”, gritou certa vez Michael Eisner, CEO da Disney, ao tentar chegar a um acordo sobre as porcentagens de lucro entre sua empresa e os Estúdios de Animação Pixar, produtora de desenhos animados como “Procurando Nemo”, liderada por Jobs. A briga, como todos sabem terminou em divórcio. Quem relata bastidores como este é o jornalista James B. Stewart, ex-editor da primeira página do jornalista do Wall Street Journal, e dono de um Pulitzer Prize, em seu novo livro “Disney War” (Simon & Schutzer, 534 páginas) ainda sem tradução para o português.

Com passe livre autorizado por Eisner (“Não tenho nada a esconder”, disse ele ao autor) e Roy Disney, sobrinho de Walt, Stweart teve total acesso ao conglomerado, sediado em Burbank, cidade vizinha a Los Angeles - e que faturou 27 bilhões de dólares em 2003. Esteve em reuniões, colocou as mãos em documentos, cartas, e-mails, memorandos e boletins de tribunal. Chegou fantasiar-se de Pateta em plena Disney World - o que exige bastante ensaio - para sentir a magia dos personagens sobre as crianças. Bem escrito e meticulosamente pesquisado, o livro concentra-se no reinado do CEO Michael Eisner, que tomou as rédeas da Disney em 1984, aos 44 anos, fazendo da empresa um palco de intrigas e puxa-tapetes.

Para se ter uma idéia, em dez anos no posto, ele não conseguiu apontar nenhum colega da empresa para ser, um dia, seu possível sucessor. Eisner, tido como o mais bem pago CEO dos Estados Unidos, fez grandes acertos, como a aposta em A Bela e a Fera e O Rei Leão, e inesquecíveis erros – deixou escapulir O Senhor dos Anéis, além de ter investido na Euro Disney. Mas foi, sobretudo, sua ganância lhe rendeu fama e ferozes inimigos. Um deles é Roy Disney, a cara da empresa para o grande público e para os funcionários, além de ser o único elo da companhia com a família Disney. Roy, que dedicou 50 anos de sua vida à empresa e ainda ocupava o cargo de presidente da divisão de animação (mantendo um bom relacionamento com Steve Jobs), foi convidado a retira-se do conselho de diretores assim que completou 73 anos. A idéia foi do próprio Eisner, que alegou durante uma reunião com demais executivos (sem a presença de Roy) de que a aposentadoria na Disney dá-se aos 72 anos. Contudo, a regra não se aplica ao conselho, o que deixou Roy enfurecido.

Outro personagem que criou inimizade por Eisner foi Jeffrey Katzenberg, presidente dos Estúdios Disney entre 1984 e 1994 - e amigo de Eisner. Katzenberg esperava que Eisner o promovesse a presidente da sede da Disney depois da morte de Frank Wells, que presidiu a empresa de 1984 até falecer em um acidente de helicóptero, em 1994. Isso nunca aconteceu – Eisner deu para trás, perdeu o amigo e Katzenberg embolsou 280 milhões de dólares ao deixar a empresa. Quem assumiu o posto em 1995, contra a vontade de muitos, foi Michael Ovitz. “Mentir é uma característica típica do Ovitz”, disse Eisner a um executivo, alegando que ainda assim suas qualidades eram complementares ao resto da equipe. Ovitz deixou a empresa 1997, garfando 140 milhões de dólares.

Faíscas também saíram para todos os lados quando o filme Chicago, da produtora Miramax, da Disney, ganhou o Oscar de melhor filme em 2003, faturando 306 milhões de dólares internacionalmente. Eisner soltou um anúncio para a imprensa listando orgulhosamente que, naquele ano, 44 das produções da Disney foram indicadas ao Oscar – porém, ele não menciou que 40 delas foram produzidas pela Miramax. Bob Wienstein, que juntamente com seu irmão lidera a Miramax, perguntou, enfurecido, a Eisner se ele poderia retirar o anúncio da mídia e adicionar uma nota parabenizando a Miramax e os irmãos Weinstein. Eisner rejeitou a idéia dizendo que não é assim que a Disney funciona: “não queremos que nenhum dos nossos executivos apareça”, disse ele.

O autor de Disney War conta ainda como foram feitas as transações de filmes, da relação da empresa com a emissora ABC. Relata ainda como Eisner perdeu sua cadeira como chairman e por quê resignou de seu cargo de CEO – o novo, Robert A. Iger, tomará posse em setembro. Além de fotos, dezenas de nomes de executivos desfilam pelas páginas, o que pode deixar perdido um leitor não familiarizados com a área de entretenimento. Para ajudar, o autor lista quem é quem na abertura do livro - personagens deixam o Capitão Gancho e a madrasta de Cinderela no chinelo.

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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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