Tania Menai, de Nova York

Desde que a americana Martha Stweart criou um império de mídia sobre decoração de casas nos Estados Unidos, ninguém mais ousou ocupar o seu lugar. A loira é a diva das casas suburbanas, toalhas de rendas e cortinas florais. Mas a nova geração – urbana e sedenta por conforto e design - ficou `a deriva. Até quem em 2001, o designer nova-iorquino Maxwell Gillingham-Ryan criou o site Apartment Therapy, atualizado diariamente e que hoje já emprega 16 editores que escrevem sobre estilo em Nova York, Chicago,Boston, Washington DC, San Francisco e Los Angeles. Seu primeiro livro, de mesmo nome, foi publicado no Brasil em 2007 (Terapia do Apartamento, editora Pensamento) no qual ele estimula o leitor a dar uma geral na casa em oito semanas. “Nunca compre nada de uma loja só: seu apartamento deve misturar um móvel caro, um móvel da sua avó, e algo funcional que não necessariamente precise declarar algo,” ensina, sempre em tom de voz baixo e calmo. “E sempre tenha flores em casa, troque a cada semana”, recomenda. Outro toque crucial: criar uma “caixa-de-saída”. Nela, você coloca as tranqueiras que acha que não vai usar mais: roupa, vaso, monitor de computador. Se em uma semana você não tocar nas tais tranqueiras, doe ou jogue fora. Sem dó. Acumular quinquilharia? Jamais.

Sua experiência vem de anos de consultoria visitando clientes de diversas profissões personalidades e necessidades. Não, ele não saia comprando móveis e abajures para a clientela. Ele analisava a personalidade e necessidade de cada um e fazia com que eles mudassem o estilo de suas casas a partir do estilo de suas vidas. Maxwell é casado e pai de uma menina de quatro anos. Em 2010, ele lançou mais um sucesso: o segundo livro, que traz fotos de casas bem decoradas, escolhidas a dedo por ele, mas ainda sem tradução em português: “Big Book of Small Cool Places” (Grande livro de lugares pequenos descolados); livros assim, viram bíblias em Nova York, onde todos sofrem de aproveitamento de espaço, mesmo em prédios milionários. Numa tarde ensolarada, ele nos recebeu em seu amplo escritório no SoHo, com janelas imensas e cadeiras vermelhas - e confortabilíssimas. Depois de pesquisar, descobrimos: são da Ikea, megacadeia sueca que vendes móveis descolados a preço de banana.

Maxwell vive no West Village. Talvez, este seja um grande ingrediente para o sucesso de sua carreira: não há exercício maior do que morar em Manhattan para saber priorizar espaço dentro de casa. A falta de conforto é tanta, as plantas dos apartamentos são tão desajustadas, que ele diz que `as vezes é necessário abrir mão de uma sala de jantar para ter um escritório. “Não há um apartamento que seja perfeito. Os próprios nova-iorquinos quando andam pela rua e vêem outras pessoas bem-vestidas elas acham que “todo mundo ganha mais que eu”, “todo mundo mora melhor que eu”, “todo mundo é mais bem sucedido que eu”, aponta Maxewell. Isso porque, segundo ele, seus conterrâneos não tem a casa que gostariam e acham que os outros têm a casa perfeita.

“Depois de anos de experiência, trabalhando em diversos apartamentos, posso assegurar: ninguém tem a casa ideal. Mesmo o magnata da mídia americana Rupert Murdoch, um dos homens mais ricos do mundo, tem um apartamento relativamente pequeno em Nova York, comparado ao que ele poderia ter em qualquer outra cidade do mundo”, conta. Segundo ele, todo mundo vive com restrições. No entanto, ele vê nas restrições oportunidades para que sejamos criativos, para que achemos soluções. E isso é diferente de concessão. “Quando há concessão temos a sensação de que não temos algo que poderíamos ter. Mas restrições abre porta para novas soluções”, diz.

Maxwell não se engana nem deslumbra com designs de outro mundo. Para ele, casa boa é casa confortável. “Conforto é algo muito difícil de alcançar. Muita gente se dedica apenas ao “belo”, incluindo a compra de muitos móveis de marca”, alerta. Por sinal, foi em uma empresa assim que ele começou sua carreira; ali, desenvolvia-se puramente o design. Ele achou tudo uma grande bobagem. “Conforto significa ter em casa tudo que te dá prazer. Há um lado estético também, claro, mas tudo tem de ser confortável”, ensina. “Por exemplo, se você curte ficar na cama por um longo tempo, invista num colchão bom e caro – o mesmo vale para roupa de cama. Sempre gastei mais em roupa de cama e nunca me arrependi.”

Na cozinha, ele orienta que se tenha uma boa tábua de corte, assim como boas facas - e mantê-las sempre afiadas. Isso facilita o preparo dos alimentos. Ele lembra ainda que conforto também significa receber amigos em casa e fazê-los se sentirem relaxados. Para isso, é importante ter um sofá sem verniz, ter mesas de canto onde um convidado pode pousar um copo; e lembrar de sempre ter um descanso para copos. Pequenos toques assim tornam um ambiente aconchegante. Quem investe no mais caro, ele sugere, deve pensar em optar por um tapete de lã com seda, em vez de lã apena: é muito mais suave. E mais: Maxwell recomenda um sofá de couro de boa qualidade, por causa da maciez. Há lugares onde se pode gastar bem para obter conforto, mas muitas vezes as pessoas esquecem disso; pensam primeiro na estética.

“Decorar a sua casa é se expressar”. E isso é algo que estamos fazendo constantemente; mas nem sempre somos bons nisso. O ideal é sempre fazer mudanças em casa. Por exemplo, normalmente, pinta-se as paredes a cada cinco anos. Mas você não precisa esperar cinco anos para comprar móveis novos; em vez disso, pode mudar os móveis de lugar a cada cinco meses e limpar a casa a cada cinco dias. Desta forma, cria-se esses pequenos momentos, nos quais você usa a sua casa, seja pendurando um quadro ou cozinhando; assim, você aprende sobre o seu apartamento. Trata-se de algo muito pessoal e é assim que se aprende sobre estilo e se adiciona pequenos toques que fazem parte da sua personalidade. Se você deixar tudo nas mãos de um profissional, a casa ficará com a cara dele. É necessário trabalhar em conjunto e deixar claro o que você quer. E se você não tiver certeza do que quer, faça o seu melhor, aceite que ele ou ela é mais experiente que você e planeje o futuro.
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