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A Moeda da Boniteza
03.dezembro.2011
Tania Menai, de Nova York
Em 2008, o público mundial se chocou ao saber que a belíssima chinesa Lin Miaoke, de 9 anos, que encantou o milhares de pessoas ao cantar na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Pequim, não era a dona da bela voz. Ela dublou o vozerão de Yang Peiyi, uma menina menos bonita, de sete anos, que ganhou um concurso para tal performance. A escolha dos diretores do evento reflete o que o carioca Vinícius de Moraes, o Poetinha, sabia melhor do que ninguém: “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”. Em alguns casos, não é tão fundamental. Mas digamos que ajuda.Tanto, que nos últimos meses, três livros – “The Beauty Bias”, de Deborah Rhode, “Beauty Pays”, de Daniel Hamermesh, e “Honey Money”, de Catherine Hakim - foram lançados no mercado americano e britânico sobre o assunto. Escritos por acadêmicos na faixa dos 50 e 60 anos, eles revelam pesquisas inéditas sobre o assunto: professores mais belos recebem melhores avaliações de seus alunos. Gente bonita tem maiores chances de conquistar uma vaga para um emprego, promoções e maiores salários. Candidatos mais atraentes recebem o dobro de voto do eleitorado, e mulheres mais lindas tem grandes chances de casarem-se com homens endinheirados.
O professor de economia Daniel Hamermesh da Universidade do Texas, pesquisa o assunto há vinte anos. “Comecei a investigar o assunto quando reparei que em uma pesquisa não relacionada a aparência, os pesquisadores davam nota de beleza ao entrevistados”, lembra ele. “Fiquei intrigado e passei a pesquisar quais os efeitos que este parâmetro teria em outras áreas”. O trabalho culminou em “Beauty Pays: Why Attractive People are more Successful”. “Hoje a beleza não deveria ser tão valorizada quanto antigamente, quando ela simbolizava saúde e por isso, um bom parceiro ou parceira para reprodução”, disse ele `a LOLA. “Este quesito não importa mais para propósitos evolucionários, mas agimos como se estivesses correndo pelas florestas”, ri Daniel. “Não acredito que as pessoas são contratadas apenas por serem lindas, todos sabem que outros quesitos também são importantes – educação, inteligência e energia. Mas quando depara-se com dois currículos quase idênticos, a tendência é escolher a pessoa mais atraente”, afirma ele.
Hamermesh diz que os Estados Unidos não estão nem `a frente nem atrás de outros países desenvolvidos em termos de leis que protegem funcionários contra discriminação. Sabe-se ainda que beleza é um quesito relativo: em algumas sociedades pobres, por exemplo, ter peso é símbolo de status, por causa da grande quantidade de gente passando fome. Mas em sociedades cosmopolitas, há uma linha mais clara sobre o que é belo. “Hoje, pode-se alegar discriminação por aparência da mesma forma como se discrimina funcionários com deficiência fisica”, diz Hamermesh. “Basta demonstrar um padrão de atitude da empresa em relação a funcionários”. Por exemplo, a marca americana de roupas Abercombie & Fitch estipulou que só contrataria funcionários extremamente sexys. A empresa poderia ser facilmente processada por esta atitude, caso as pessoas mais feias fosses protegidas por lei. “Mas quem é que quer alegar que não é sexy o suficiente para o emprego?”, questiona Hamermesh. Ele mesmo responde: “Ora, se houver bastante compensação financeira, aposto que muita gente alegaria falta de sex-apeal.” E isso fica a critério da corte decidir se a empresa tem uma má conduta ou se as pessoas concordam que são, de fato, feias”.
Um dos pontos que Hamermesh aponta em seus estudo é a “troca” que se faz em torno da beleza. As mulheres mais bonitas tendem a casar com os homens ricos, mesmo quando são feios de doer. É como se a beleza fosse um bônus a mais em troca do conforto que o dinheiro gera. O mesmo acontece quando se contrata uma pessoa bela para um escritório – a beleza é um bônus a mais para a empresa. Claro que isso afeta mais um emprego de vendedora de batom do que alguém que trabalha em um escritório fechado. Mas até estas pessoas são mais valorizadas se forem mais bonitas. No entanto, mulheres estonteantes tendem a serem vistas como menos eficientes no ambiente de trabalho. “Isso acontece porque se você é forte em uma de suas características, você não tende a se esforçar em outras. Por que uma pessoa extremamente inteligente iria passar horas na academia, se ela não precisa da aparência para sobreviver?”, aponta o pesquisador.
Em seu livro “The Beauty Bias”, a professora de direito americana Deborah L. Rohde, da Universidade de Stanford, sublinha a injustiça que os padrões de beleza impõem na vida e até no sistema judicial. Ela conta que o valor que se dá `a aparência varia de acordo com posições geográficas e profissões. “Ser atraente é importante em regiões metropolitanas onde empregos dependem de imagem e influência, em vez de força física”, escreve Deborah. Mais ainda: quanto mais feio, menores as chances de promoção. Até mesmo os salários dos belos são maiores, independente do desempenho no emprego. É como se a beleza fosse um algo a mais para a empresa. Claro que não se pode generalizar. Mas, por exemplo, segundo Rohde, pessoas acima do peso tendem a ser vistas como desleixadas, por não cuidarem de si. Nos EUA, cerca de 60% mulheres gordinhas (ou obesas) e 40% de homens rechonchudos alegam que foram descriminados em seus ambientes de trabalho. Pior: mulheres gordas tem maiores chances de serem pobres. No caso dos homens, altura é imperativa: os mais altos são os mais requisitados, tendem a ser promovidos e ocupar posições de liderança.
Em uma das pesquisas conduzidas entre mulheres americanas, três quartos delas apontou a aparência como fator mais importante, superando desempenho profissional e inteligência. Não é a toa que elas despejam 18 bilhões de dólares por ano em cosméticos e mais 40 bilhões de dólares em dietas “mirabolantes” (a maior parte delas ganham o peso de volta em menos de cinco anos). Em um país onde um1/5 da população não tem plano de saúde, os procedimentos de estética aumentaram 400% na última década. “E com isso, cresce o risco de intervenções cirúrgicas mal feitas e o efeito de “dietas io-io”, afima Deborah. Ela lembra que em algumas profissões beleza põe mesa - como modelos -, mas em que em outras, como aeromoças, aparência não deveria ser uma obrigação. Ela escreve que em jurisdições que não especificam discriminação em torno de aparência, as vitimas tendem a tentar proteção sob outras leis, como discriminação baseadas em religião, raça, sexo ou etnia.
Historicamente, Hamermesh não acredita que a humanidade pensa mais em beleza do que se pensava antigamente. “Veja os egípcios e seus ornamentos há mais de dois mil anos. Ou as atrizes de Hollywood há 80 anos. Não acredito que nos preocupamos mais ou menos com a beleza do que em qualquer outra época”. Talvez seja por isso que o mundo se chocou novamente – e desta vez pelo motivo oposto – quando o programa “American Idol” escolheu Susan Boyle, uma cantora rechonchuda de 47 anos, como vencedora de seu concurso musical televisionado internacionalmente. No entanto, Hamermesh faz questão de reforçar que não adianta gastar tempo e dinheiro com plástica e cosmético para tornar-se mais bonita. “Os resultados são mínimos. Tente ressaltar as qualidades positivas que você tem e evite circular por áreas onde a beleza é crucial”, diz ele, que confessa ter escolhido uma boa foto sua em seu perfil do Facebook. Dica de expert.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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