Jonathan Ive
01.novembro.2003
A forma é a função
Por Tania Menai
Jonathan Ive, o vice-presidente da Apple e responsável pelo design de produtos como o iMac, iBook, eMac, Power Mac G4, G5 e iPod, é um recordista. Nos últimos onze anos, ganhou a maior parte dos prêmios importantes de design, como o D&AD Gold, da associação British Design & Art Direction. O inglês de 36 anos foi também o precursor da moda dos aparelhos transparentes. Antes de trocar Londres pela Califórnia, Ive fundou a Tangerine, empresa que deu consultoria à Apple no conceito do Power Book. Em 1997, já com cinco anos como funcionário da Apple, foi responsável pela criação do primeiro iMac, produto que revitalizou a marca, que na época via suas vendas despencar em queda livre. Ive falou a VEJA, da sede da Apple na Califórnia.
Veja – Estamos muito longe de viver como os Jetsons, personagens de desenho animado que se cercam de quinquilharias de alta tecnologia?
Ive – É difícil dizer. Mas os Jetsons são uma fonte de inspiração. Na minha equipe, conversamos muito sobre esse desenho animado durante o desenvolvimento do primeiro iMac. Nós nos perguntávamos: "Que tipo de computador os Jetsons teriam?". Pensar sobre o futuro pode ser algo perturbador, simplesmente porque não sabemos o que virá pela frente. A visão dos Jetsons sobre o futuro tinha uma mistura estranha e interessante – por um lado um otimismo e, por outro, algo de nostálgico.
Veja – Por que a Apple decidiu fazer computadores coloridos?
Ive – Hoje o conceito de computador é diferente de quando fizemos o primeiro iMac. Na época, tínhamos consciência de que muita gente se importava apenas em explorar a capacidade da tecnologia num computador. Era estritamente utilitário. O assunto era a performance e a função. Foi justamente esse o nosso desafio. A idéia era criar um produto com o qual as pessoas tivessem uma outra ligação. Muita gente falava sobre as cores, que era algo novo e chocante. Mas o que estávamos fazendo alinhava-se com a forma que desenvolvemos para o computador. Estudamos bastante os diferentes níveis de opacidade e o que acontece quando a luz refrata dentro do material.
Veja – O senhor não acha que os computadores prejudicam nossa qualidade de vida?
Ive – Sempre colocamos grande ênfase nessa questão – ela permeia a empresa inteira, desde a criação de softwares até a maneira como nos conectamos com o produto em si. O novo iMac é um exemplo claro do computador se adaptando ao usuário – e não o contrário. Fomos ambiciosos ao fazer um monitor ajustável, capaz de virar para vários lados.
Veja – O senhor concorda com as pesquisas que dizem que os homens são os que mais se preocupam com o poder e a aparência dos produtos tecnológicos?
Ive – Aqui na Apple, temos um objetivo bastante simples, que é desenhar bons produtos. E desenhá-los bem. Quando tentamos desenhar algo, como o iPod, por exemplo (um walkman digital), miramos no resultado final, independentemente do sexo, das diferentes culturas ou geografias. Não desenhamos um produto tendo em mente um alvo muito preciso, calculado, de forma intencional ou direcionado para um sexo ou outro.
Veja – Quanto do senhor está nos produtos da Apple?
Ive – Acho que as pessoas seriam capazes de reconhecer os produtos da Apple mesmo se eliminássemos a logomarca da empresa. Como trabalhamos em equipe, acho que não há traços de um indivíduo em particular em nossos produtos. Cresci em Londres, uma cidade com muita diversidade cultural. Um fator positivo de nossa equipe é a mistura de nacionalidades japoneses, italianos, australianos e neozelandeses.
Veja – O senhor é um daqueles tipos que andam rodeados de parafernálias tecnológicas pelo corpo?
Ive - De jeito nenhum. Sou muito exigente nesse sentido. Vivemos rodeados de produtos ruins e frívolos. Uso apenas um PowerBook de 17 polegadas e meu iPod.
iMAC
A idéia do projeto foi dar conforto às pessoas, que podem mudar a posição do monitor à vontade. Tem processador PowerPC G4 de 800 MHz, 256 MB de memória, tela de cristal líquido de 15 polegadas e disco rígido de 60 GB. Custa cerca de 8 000 reais.
Veja – Como é seu cotidiano na Apple?
Ive – O aspecto bom é que ainda passo a maior parte do tempo desenhando. O que fazemos é tão difícil que trabalho bastante, normalmente até tarde da noite. Mas isso faz parte da vida de um designer. Trabalho bastante em conjunto com Steve Jobs, o presidente da empresa. Colaboramos durante o desenvolvimento dos produtos
Veja – Qual o período da história recente que desenvolveu o mais fabuloso design?
Ive – O fim da década de 50 e os anos 60 foram particularmente marcantes, especialmente quando falamos em design automobilístico. Era algo fantástico. Mas no começo da década de 70 houve muito avanço tecnológico e grandes novidades na área de materiais e processos de manufatura.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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