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Jonice Padilha - J.Sisters
01.abril.2004

Beleza a la brasileira


Um papo sobre depilação com a capixaba Jonice Padilha pode vir a ser mais constrangedor do que uma conversa com o ginecologista. Caçula das sete irmãs mais famosas do mundo da estética, é ela a porta-voz do salão J. Sisters por onde passam as unhas, cabelos, sobrancelhas e, digamos, virilhas mais celebradas de Nova York e Hollywood. Quem entra pela minúscula porta do número 35 da rua 57, em Manhattan, não faz idéia do que aguardar no terceiro, quarto e quinto andares. Um time de 50 profissionais, quase todos brasileiros, que faz qualquer americana pálida se sentir uma garota de Ipanema (ou, pelo menos, assim elas sonham). Aos 43 anos, 22 deles em Nova York, Jonice enche o peito de orgulho ao falar da conquista das irmãs. Até pouco tempo, via-se as sete trabalhando lado a lado. Mas hoje, as três mais velhas já se aposentaram e voltaram para o Espírito Santo. Em Nova York, continuam Jonice e Joceli e mais 11 sobrinhas importadas do Brasil. Já Joyce e Jane acabaram de inaugurar a primeira filial do salão, em South Beach, Miami, com 25 funcionários.

Mas, afinal, por que todas elas têm J no nome? “Minha mãe chama-se Judith. Meu pai era fanático por ela e quis homenageá-la”, explica Jonice. São elas, Judicéia, Jussara, Juraci, Joceli, Jânia, Joyce e Jonice. Mas a homenagem não pára por aí. A mãe, hoje com 84 anos, teve 13 filhos. Os outros são os que chamaríamos de “J Brothers”: Josias, José Francisco, Jerônimo, Jocelino e João. Apenas Gonçalo nasceu sem a marca registrada da família. A história começou na cidade natal de Linhares, onde uma das tias das meninas tinha um salão de beleza. “Meu pai não deixava as filhas mais velhas irem para a casa dos outros”, lembra Jonice. “Então elas ficavam com a minha tia e sempre aprendiam algo novo”. Até que o pai resolveu abrir um salão para as meninas. “Eu ia para lá depois da escola”, conta ela .Todas as sete faziam de tudo – de cabelo à depilação. E faziam bem.

Ao desembarcar em Nova York na década de 80, as primeiras irmãs trabalharam em salões locais para descobrir o que os americanos tinham de diferente. Elas não falavam patavinas de inglês. Mesmo assim, queriam oferecer um serviço exclusivo para entrar no mercado pela porta da frente. Voilà: a cutícula. Na época, usava-se unhas postiças, algo que não dava trabalho algum às manicures. “No Brasil, tirávamos a cutícula e passávamos o palitinho com algodão e acetona”, diz Jonice. “As americanas nunca tinham visto isso”. As irmãs mais novas foram chegando e todas abriram um pequeno salão. Deu certo. Hoje, elas já compraram mais dois andares no mesmo prédio. “Sempre trabalhamos juntas. Não era um mito – as clientes viam as sete, o dia todo, cinco dias por semana”, lembra Jonice. “E ainda passávamos o fim de semana grudadas – mas sem falar de trabalho”, conta ela, sentada no hall do salão, onde o entra-e-sai não pára um só minuto. A clientela chega a 250 por dia, despejando até $ 40 mil diários.

Jonice é mão-na-massa. Levanta às 5.30 da manhã. Às 6.40 já está no salão. Só sai de lá depois das oito da noite. “Mulher brasileira não é mito sexual. É batalhadora”, defende. Foi ela quem assumiu o papel de assessora de imprensa ainda na década de 80, mesmo com o inglês ainda capenga. O primeiro telefonema foi para a Elle Magazine. “A repórter desligou o telefone na minha cara”. Mas nossa heroína não deixou barato. “Liguei novamente e ainda pedi desculpas, ‘pois achava que era eu quem tinha desligado’.” A repórter acabou indo ao salão, adorou e hoje é a maior incentivadora das irmãs na imprensa americana.

O segredo das J.Sisters é simples: elas vendem Brasil. O salão tem tudo o que as brasileiras do Rio, São Paulo ou Acre sempre disfrutaram, mas nem sempre dão valor: a simpatia e um trabalho bem feito. Numa cidade impessoal como Nova York esta combinação custa caro. É o caso da manicure por $40, pedicure por $ 60, sombrancelha por $ 45 e a famosa “Brazilian Bikini Wax” (depilação de virilha a la brasileira) que custa $55. E mais uns $10 de gorjeta por serviço. Por sinal, todos foram testados e aprovados pela repórter da Oi! Ao adicionar o “Brazilian” ao “Bikini Wax”, Jonice fez uma grande jogada de marketing. E nega que a “Brazilian Bikini Wax” seja sinônimo da depilação integral de pêlos, como dizem por aí. “O ‘Brazilian’ significa que a quantidade e o local do pêlo retirado é problema da cliente e da profissional”. E continua: “o mesmo vale para o look da depilação: seja natural, em forma de coração, triângulo ou quadrado”. Geometrias à parte, o trabalho das J. Sisters, que exige a retirada total da calcinha, deixa felizes estrelas como Sandra Bullok, Gwyneth Paltrow, Mellanie Griffith e Caroline Besset Kennedy, que esteve lá três dias antes de falecer.

“Foi uma aventura”, disse uma americana ao sair de uma das 13 salas de depilação, marcadas de 15 em 15 minutos. Achou pouco? Tente, então, o recém-lançado “Brazilian Sunga Wax”, para os bravos rapazes que se aventuram no maravilhoso mundo da cera. As duas salas destinadas aos corajosos ficam num andar separado e os dois depiladores são homens. “E heterosexuais. Assim não intimidamos nenhum cliente”, diz Jonice. Em vez de usar a palavra ‘bum-bum’, elas preferiram divulgar o novo serviço como depilação do “Very, very lower back” (parte extremamente inferior das costas). Mas a depilação masculina não pára por aí, se é que você me entende, meu caro leitor. E nem as J.Sisters. Com uma linha de cosméticos própria, elas exportam de xampu a esmalte para salões de Dublin, Londres, Alemanha e Japão. “Ainda abrimos um novo espaço para a mão-de-obra brasileira nos Estados Unidos”, orgulha-se Jonice. “Hoje, todos os salões procuram por brasileiras. Isso é o que mais me deixa feliz.”


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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