Kate Hudson
14.agosto.2005
Um Olhar para o Além
Tania Menai, de Atlanta
Roubando uma frase da língua inglesa, pode-se dizer que Kate has it all. Não falta nada a Kate Hudson, atriz que ganhou o mundo por sua performance em Almost Famous. O papel que lhe rendeu um Globo de Ouro e uma idicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Filha da atriz Goldie Hawn e dona de um sorriso ímpar, esta peixinha hoje com 26 anos é casada com o músic Chris Robinson e mãe de Ryder, um príncipe de dois anos. Por duas vezes já foi considerada “uma das 50 pessoas mais belas do mundo” segundo a revista People, já foi capa de dezenas de revistas e participou em mais de dez filmes.
Em A Chave Mestra, filme que estréia no Brasil em agosto, Kate vive Caroline, uma enfermeira que desiste de trabalhar em hospitais – onde pacientes são tratados com certa frieza e indiferença – para servir doentes em casa, ajudando-os a morrer com mais dignidade. O filme é rodado nas redondezas da bela New Orleans, cidade famosa pela prática do Vodoo, ponto explorado no filme. Caroline é contratada por um casal, cuja mansão gótica, no delta da Lousiana, tem um quarto secreto que esconde fantasmas e segredos do passado. Com atuação impecável, a esposa é interpretada por Gena Rowlands e o marido doente por John Hurt. O trio de atores funciona muito bem.
Foi em Atlanta, onde Kate acompanhou o marido em um festival de música, que a atriz recebeu Oi para esta entrevista. Contou que se prepara para um novo filme, ainda em sigilo, a ser rodado a partir de setembro e aproveitou para reforçar que não fará o papel de Jeanne em I dream of Jeanne. “Não sei por que a imprensa continua divulgando esta notícia”, questiona. Com celular a tiracolo, e vestindo jeans, bijouterias de turquoise, pedra típica dos índios americanos, além de uma camiseta sem manga que diz Jackknife Gypsies, seu papo foi ligeira e deliciosamente interrompido pela chegada do pequeno Ryder. Ali, com troca de chamegos, sorrisos e exclamações como “mama!”, Kate provou que seu talento extende-se também à maternidade.
Este foi o seu primeiro filme depois de ter sido mãe. Seu bebê tinha apenas três meses quando as filmagens começaram – e sete quando terminaram. Como foi esta experiência?
Quando eu estava trabalhando, estava focada nas filmagens. Mas foi desafiante levar um bebê nas filmagens. Eu estava amamentando, o que dava muito mais trabalho. Quando eu tinha algum minuto para descansar, eu estava amamentando, cuidando do bebê. Mas isso tornou tudo mais divertido, foi uma experiência incrível. As vezes era engraçado, porque meus seios estavam cheios de leite, pingando, prestes a explodir. Daí alguém saia correndo para pegar a bomba para retirar leite. Muitas vezes eu escutava a produção se perguntando no rádio “aonde está a bomba de Kate?”. Era engraçadíssimo.
Você deu a luz três meses antes das filmagens. Mesmo assim, estava impecável – aspecto bem explorado no filme. Como foi para você atuar logo depois de uma gravidez, e ainda usar roupas íntimas neste filme?
Foi ótimo – no momento em que filmamos a cena em que estou só de calcinha eu estava bastante confortável com o meu corpo. Então não me senti intimidade com isso. Mas houveram momentos, logo em que começamos as filmagens, em que eu estava bastante acima do meu peso. Na verdade, quando estou interpretando um personagem, não me importo nem um pouco com isso. Toda a idéia de ser atriz é simplesmente não ter conciência do seu corpo desta forma. Mas, no meu caso, perdi peso mais rápido do que eu pensava – e mais rápido do que os outros pensavam também. Então não tive de pensar muito sobre isso.
O quão normal uma vida pode ser quando a sua mãe é uma estrela de Hollywood, o seu marido um músico de rock e você mesmo uma atriz em ascendência?
Provavelmente, mais normal do que a vida de muita gente. Aliás, não concordo com o conceito de normal. Não acho que a vida de ninguém seja normal. Só sei que a minha família é muito unida, passamos ótimos momentos juntos. Todos meus irmãos são muito trabalhadores, pessoas interessantes que eu amo. São amáveis, pessoas que nos confortam, gente forte. E, certamente, isso se deve muito aos meus pais. Eles devem ter feito algo certo, porque eu simplesmente amo meus irmãos, queremos estar juntos o tempo todo. Divirto-me muitíssimo com a minha família. E o mesmo acontece com o meu marido. Nossa vida é ótima, independente das nossas profissões.
Você começou sua carreira super jovem. Alguma cena foi especialmente desafiante para você?
Isso acontece em todos os filmes. E uma das razões pela qual eu amo o que faço é justamente ter de me desafiar o tempo todo. Não há nada melhor do que acabar um dia onde você teve de fazer uma cena desafiante e, de repente, deu certo, clicou. É um ótimo sentimento.
A atuação dos protagonistas de A Chave Mestra (Skeleton Keys) é o grande trunfo do filme. Como foi trabalhar com atores como Gena Rowlands e John Hurt?
Foi fantástico. É uma daquelas oportunidade únicas. A gente acaba sempre aprendendo daqueles que respeitamos. Observar como eles trabalham é uma experiência ótima. Ver John e Gena atuar foi fabuloso. Gena sempre estuda as formas de como as coisas podem ser feitas. John não teve uma fala sequer neste filme, atuava apenas com seus olhos - e fazia tanto com eles. Isso é um grande exercício para um ator.
Outro aspecto explorado neste filme é a importância da relação enfermeira-paciente. Você havia pensado neste assunto antes de fazer este filme?
Sim, quando a minha avó estava doente, você vê o quão fantásticos são os enfermeiros e enfermeiras. Trabalhar com pessoas doentes e que estão morrendo. Também pude vivenciar isso quando tive bebê – as enfermeiras nos fazem sentir tão bem, tão calmas, tão relaxadas. É importante ter pessoas tomando conta de você quando se chega a uma certa idade e você é incapaz de tormar conta de si.
Outro assunto deste filme trata sobre fantasmas e episódios sobrenaturais. Você já teve alguma experiência assim?
Sim. Sou meio sucetível a estas experiências. Talvez porque eu acredite muito nelas, sempre vejo fantasmas e coisas estranhas, tenho sonhos estranhos com gente que já morreu que eu conhecia. Tive algumas. Por exemplo, as coisas que mais me amedrontam são quando eu sinto algo estranho num quarto e fico sabendo depois que um episódio macabro aconteceu por lá. Isso aconteceu uma vez na Inglaterra, quando entrei num quarto, onde eu iria me trocar para uma sessão de fotos. Senti imediatamente que aquele quarto era estranho, e queria sair correndo de lá. Então falei para um figurinista que era bastante sensível para ir no quarto e ver o que ele achava. Ele também ficou arrepiado, especialmente com um dos cantos. Depois falamos com o dono da casa e descobrimos que ali morou um duque e uma duquesa. O duque teve um caso com a empregada e a duquesa acabou a envenando naquele quarto. Eu disse, “ok, isso é assustador!”
Mas você já viu fantasmas?
Já. Uma vez acordei e vi uma mulher sentada no meu sofá. Ela não me assustou. Apenas a vi. Eu estava com um ex-namorado. Ele acordou e não viu nada. Morreu de medo. Eu virei na direção dele para falar lhe que tinha de fato uma mulher sentada ali. Quando virei de volta para o sofá, ela tinha desaparecido. Super estranho. Ele falou que eu estava perdendo a cabeça, mas eu não estava. Não dá para explicar o que se passa quando coisas assim acontecem.
Você assiste filmes estrangeiros?
Sim, meu marido gosta de filme bastante estranhos, coisas das quais ninguém nunca ouviu falar. Há um filme russo chamado Come and Sea, de 1985, que é muito bom. Gostamos dos filmes antigos, estamos sempre assitindo Truffaut e Fellini.
Se você tivesse que escolher três diretores com quem gostaria de trabalhar, quem seriam?
Hoje, adoraria trabalhar com Alexander Payne – simplesmente amo seu trabalho. Também gostaria de ter a oportunidade de trabalhar com Scorsese, porque sou apaixonada pelo que ele faz. Adoro sua energia. Sam Mendes seria outra boa experiência.
E quais os três filmes que você teria na sua mesinha de cabeçeira?
Estas perguntas são sempre difíceis porque eu amo cinema. Jerry Maguire, que assisto repetitivamente. Casa Blanca, que em termos de atuação é maravilhoso. Sei que é cliché, mas é verdade. E amo Whatever happened to Baby Jane?, um filme inacreditável.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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