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Jack Black
24.outubro.2005

Tania Menai, de Los Angeles

Faz tempo que o ator Jack Black despediu-se da infância. Mas a infância nunca abandonou Jack Black. Californiano de Santa Monica, ele cresceu sendo o palhaço da classe. Filho de pais separados, aos 13 anos estreiou sua carreira num comercial do Atari. Criou uma banda-comédia chamada Tenecious D. E hoje, aos 36, suas gracinhas valem bons milhares de dólares em Hollywood. “Eu jogava Atari sim! Apoiava o produto!”, conta ele, que continua aficionado por videogames, playstation portátil e iPod. Estrela de filmes como High Fidelity e School of Rock, Jack será um dos protagonistas da terceira versão cinematográfica do lendário King Kong, que estréia mundialmente em dezembro - original é de 1933, e o primeiro remake é de 1976.

Ao lado de, também protagonistas Andrien Brody e Naomi Watts, Jack fará o papel do cinegrafista Carl Denham, que em plena a depressão americana luta para conseguir atores para seu filme. Para isso, Jack ficou sete meses na Nova Zelândia, onde o filme foi inteiramente rodado, sendo dirigido pelo colecionador de estatuetas de Oscar (11) Peter Jackson, diretor da triologia Senhor dos Anéis. Jackson reproduziu fielmente a Nova York dos anos 30 digitalmene usando material histórico e plantas arquitetônicas.

Além de músico e comediante, Jack ainda escreve e dirige. “Defino-me como ator. Mas os outros aspectos certamente me ajudam”, diz ele que chegou a criar um filme sobre sua banda, que pretende colocar na tela grande no ano que vem. Jack vive em Los Angeles, onde pratica yoga, anda de bicicleta e é craque em pôquer. Mas também gosta de horas letárgicas na frente da TV: “Adoro rever filmes de Christopher Guest; a cada vez, dou gargalhada em partes diferentes”, conta. “Ah, também adoro O Tubarão e de The Shining”.

No momento, Jack trabalha no próximo filme Nacho Libre, a ser rodado no México, onde ele fará um lutador mexicano. Não fala espanhol, mas confessa que está tomando aulas e escutando música hispana em casa. “Os atores são todos mexicanos, conhecidos localmente - exceto eu”, diz ele. “Não, o Gael García Bernal não está nesse filme”, avisa. “Gosto muito dele, mas ele é bonito demais”. De calça jeans, camisa xadrez e cabelo desajeitado, Jack conta, nesta entrevista exclusiva a Oi, sobre a infância e dos bastidores de King Kong.

Você era o garoto comédia da sua escola?

Sim, com certeza eu sempre queria ser o engraçadinho da turma. O palhaço.

Quais os desenhos animados que você gostava?

Não gostava dos Flinstones. Preferia os Jetstons. Não era um fã do Hanna Barbera em geral, não gostava daquela arte. Gostava dos desenhos que passavam sábados de manhã aqui nos EUA, como Scooby Doo, os Smurfs e os Superamigos.

Depois de School of Rock, como é a sua relação com crianças?

Virei um administrador de todas as crianças que sonham em entrar no mundo do rock. É legal. Adoro as crianças. Os pais é que são meio sacais. “Meu filho é o melhor pianista harmonico – você tem um tempinho para ir até a nossa casa e vê-lo tocar?”

Como foi sua relação com os atores mirins daquele filme?

Boa. Não mantive contato com nenhum deles depois, mas durante as filmagens nos divertimos muito. Eles me faziam rir.

Talvez as pessoas já esperem que você seja engraçado. Mas isso acontece naturalmente ou tem dias que você simplesmente não está a fim de uma piada?

É meio sacal quando alguém chega e fala: “ei, você é o Jack Black. Faça alguma coisa engraçada!” Às vezes eu faço sob ordens, e me divirto. Noutras, simplesmente ignoro. (Soluça). Desculpe. Acho que este deve ter sido um arroto fedorento. Acabo de comer camarão.

O quão importante é a stand-up comedy, shows solos em teatro, na carreira de um comediante?

Esta é uma maneira como começaram grandes nomes de hoje na década de 90. Não sei se hoje isso é tão forte. Não fiz muitos shows assim, mas fiz muitos este tipo de show com a minha banda. Nunca fiz isso sozinho.

Qual o comediante que você gosta de assistir?

Adoro Will Ferrell – mas Sasha Baron Cohen talvez seja meu favorito. Ele é londrino. Não entendo quando falo com alguém da Inglaterra as pessoas dizem “ah, ok, ele é bonzinho”. O que eles querem dizer com isso? O cara é um gênio!

O que aconteceu com a sua banda?

Escrevemos um filme, previsto para ser lançado no meio do ano que vem. Chama-se “Tenesious D in the pick of destiny” (* in the pick pode ser na escolha e pode ser palheta de guitarra). É a história de uma banda que descobre que todas as melhores bandas do mundo usaram a mesma palheta de guitarra. E a gente tinha que pegar a tal palheta. E uma comédia nos moldes do Senhor dos Anéis. Mas eu falei com o Peter e ele não ficou zangado que roubamos as idéias dele. “Você roubou do Token, não de mim”, ele disse.

Qual dos seus papéis você se orgulha?

Gosto do meu personagem em Tenesious D, de King Kong, de School of Rock (2003), me diversti muito em High Fidelity (2000), mas não sou muito fanático pelo pepel que fiz em Shallow Hal (2001). Ainda assim teve gente que gostou daquele filme. E fico feliz por isso. Mas acho que aquele não é o meu tipo de senso de humor. Não tive muito o que colaborar com aquele filme, agi mais como marionete. Tenho uma memória ruim do processo do filme.

Você está prestes a estrelar em um épico. Ao olhar para trás, você pensa que é aqui mesmo que você sonhava estar?

Obviamente, sou o escolhido de Deus. Ele ama a mim mais do que aos outros. Nada disso. Tive muita sorte. Trabalhei muito. E quando as pessoas me perguntam como entrar neste meio de cinema, sempre digo a elas para escrever e dirigir paralelamente com a carreira de ator – eu não teria nada hoje se não tivesse começado a minha banda e escrito para mim coisas que achava engraçadas. A forma ideal é entrar de cabeça no processo inteiro.

Como você foi escalado para King Kong?

Bom, depois de escrever o roteiro e mandar pro Peter Jackson... Sério: recebi um telefonema com a proposta para este papel; e foi engraçado porque eu já tinha colocado Peter Jackson no topo da minha lista de diretores com quem desejava trabalhar. Adoro o trabalho dele em Heavenly Creatures (1994) e Senhor dos Anéis (2003). Mas nunca cheguei a mencionar isso para a minha agente porque, claro, todo mundo é afim de trabalhar com Peter Jackson, nem vou tentar uma entrevista com ele – é um sonho impossível. Mas ele me ligou, queria me entrevistar para King Kong. Meu coração disparou. Nem chegamos a fazer nem audição, nem leitura – nem me deram um roteiro. Na reunião, estava ele e dois produtores, conversamos sobre cinema, sobre coisas que gostamos – eles me mostraram a arte conceitual do filme. Aí eles me falaram que o personagem em questão, o cinegrafista Carl Denham, é um cara muito obsecado, tem um ego imenso, é muito inseguro. Eu disse “uau, sou capaz de fazer isso, posso fazer um cara bem obsecado, adoro a década de 30”. Eles falaram que também gostariam de me ter no filme, mas que ligariam depois. Passou um mês sem que o telefone tocasse. Até que eles ligaram para avisar que o papel era meu.

Você chegou a usar humor neste personagem?

Não fiz tiradas ou piadas previsíveis, mas deu para usar humor sim. Mas, em geral, tentei manter o tom pessornagem real. Peter me avisava quando eu estrapolava. Uma vez, chegaram a me dizer para relaxar os olhos.

E você, é obsecado com alguma coisa ?

Gosto que tudo saia perfeito. Se estou perante um público ou na frente de uma câmera, e a cena não foi tão engraçada quanto eu planejava, penso sobre isso por horas e horas. Principalmente no carro, dirigindo. Fico que nem um idiota ao volante, falando sozinho, indignado.

Quais as suas memórias da primeira versão do King Kong?

Vi as duas versões, sendo que a primeira não vi até ser escolhido para este filme. Mas o legal de ter assistido a esta primeira versão foi imaginar como o público daquela época reagiu a este filme. Você sabe, aquilo era um “estado artístico de efeitos especiais”. E ainda assim havia um charme, era divertido de assistir – dá a impressão de uma daquelas jornadas da Disneylândia, em que as coisas passam por você. Gosto muito de algumas partes da versão de 1976. Eu tinha sete anos e achava o Jeff Bridges o máximo. E era apaixonadinho pela Jessica Lange, claro (protagonistas). Eu achava que quem estava dentro daquela rouba de gorila era o próprio Rick Baker (maquiador de Hollywood que chegou a fazer a maquigem do videclip Thriller de Michael Jackson). Isso não é incrível?

Os efeitos desta nova versão de King Kong afeteram diretamente a atuação de vocês?

Não. Foi o mesmo que trabalhar em qualquer outro filme. O trabalho é o mesmo. Imaginamos que há alguma coisa lá e não há. É necessário um pouco mais de imaginação. Por exemplo, quando estávamos correndo de uma espécie de dinossauros, tive que lembrar de algo que vi em Jurassic Park. Mas na hora, eu imaginava em algo “real” que eu mesmo imaginava que era metade tigre, metade tubarão. E ia vinha correndo atrás de mim como um tigre, mas tinha a boca com um tubarão. E isso me dava medo. Não havia nenhum gorila em cena. Tudo foi feito por computador. O ator que fez o gorila vestia um terno todo marcado com pontos e além das centenas de pontos em seu rosto para capturar todas as suas expressões faciais. E isso era usado posteiormente para criar o gorila.

Como fizeram para você parecer um sujeito com cara de anos 30?

No começo eles fizeram um permanente para eu ficar com o cabelo encaracolado – mas não foi suficiente, os cabelo não encaracolou como eles queriam, ficou simplesmente ridículo e apenas disseram: “peruca nele!”. Mas depois estava eu com aquele cabelo encaracolado. Se eu soubesse, não teria feito esse permanente que durou quatro meses. Mas tudo bem. Eu usava chapéu toda hora.

O roteiro deste King Kong é fiel ao original?

Os efeitos são “um pouquinho melhores” desta vez. Sério, na versão original tinham algumas performances muito legais, isso foi de uma era que não existe mais. Hoje a realidade é outra. Isso foi antes de atuação metódica, tudo era mais teatral. Mas os personagens não podem ser comparados. Mas a estrutura do filme não foi mudada. Havia um segredo em relção ao roteiro para não ser violado. O meu, por exemplo, tinha escrito Jack Black em cada página. Inclusive participei do blog que Peter Jackson estava fazendo durante as filmagens. Me surpreendo com a maneira como ele ainda tem lugar no cérebro para pensar sobre marketing, mas ele é muito brilhante nessa área também. Deixar as pessoas saberem sobre o processo do começo ao fim é muito legal.

Você é fã de remakes?

Não me importo com remakes, caso haja algo novo. É o mesmo que música. Quando alguém regrava uma música e agrega algo novo, tudo bem. Mas se piora, acaba sendo uma grande perda de tempo. Alguns dizem que o segundo King Kong foi pior que o primeiro. Mas este não – este será melhor em vários níveis. Acho que as pessoas jamais viram o tipo de efeitos que terá esse filme. A cinematografia será bela – não posso esperar pra ver (o ator britânico) Andy Serkys como King Kong. Sei que esse cara sacrificou seu corpo para este papel. Ele dava medo quando atuava.

Como foram as cenas com Naomi Watts?

Numa delas eu a convenço de entrar no barco e ser a estrela do meu novo filme. Era uma época de depressão em Nova York e eu não conseguia convencer nenhum ator de primeira para participar do meu filme – para eles parecia surreal eu colocá-los num barco e levá-los para Singapura para filmar. Eles todas sentem que alguma coisa estava errada, porque eu não era o diretor mais responsável. E aí eu começo a entrar em pânico, porque faltam três horas para o barco sair e eu não tinha uma atriz. Então a vejo na rua, penso logo que ela seria a ideal, que seria brilhante. E ela estava faminta, porque era a época da depressão. E eu vou e falo com ela. Essa foi uma cena legal.

E como foi trabalhar com Peter Jackson?

Ele trabalha o filme de uma forma muito orgânica. Ele e sua equipe não se prendem a nada, mudam muita coisa na hora da cena. Tudo é muito fresco e ao vivo. Eles estão sempre cochichando entre si e sempre vendo o que pode ser mudado. Foi muito legal ser parte disso. Sim, foi uma experiência. Incrível. Tivemos um mês de férias na época do natal, o que totalizou oito meses. Mas foram incríveis. Faria tudo novamente.


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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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