Botero Sisters
06.fevereiro.2006
Tania Menai, de Las Vegas
Quatro artistas brasileiros dos shows KÀ e Zumanity receberam Viagem e Turismo nos bastidores dos shows para entrevistas exclusivas.
Luciene e Licemar Medeiros, as “Botero Sisters” – atrizes e malabaristas de Zumanity
A dupla é nada menos do que a oitava geração circense da família, que tem a origem na França e Itália. O bisavô era músico, a bisavó fazia circo de rua, saltimbanco. Os pais de Li e Lu, de 33 e 35 anos, como são chamadas, faziam de tudo. O pai cuidava de animais, elefantes, leão, e foi malabarista. A mãe, era acrobada, aramista e trapezista. “Antigamente, um artista de circo tinha de fazer de tudo”, dizem elas, de maquiagem e perucas, no camarim de Zumanity, entre um show e outro.
As Botero Sisters, nome que elas mesmo de deram inspiradas no trabalho do pintor colombiano Fernando Botero, não têm medidas atléticas como os demais artistas – elas pesam entre 97 e 100 quilos. Únicas filhas do casal, elas tem dois anos de diferença de idade, uma nasceu em Manaus, outra no Paraná (onde o circo se apresentava), mas foram criadas em São Paulo. Foram elas que levaram a carreira circense da família, fazendo aula de teatro, dança, malabarismo, sapateado, aula de palhaço. Elas fizeram uma audição para o Cirque du Soleil em 1997 e foram chamadas para um show em 1999. Mas na época uma das irmãs estava de pé quebrado e a dupla teve de recusar o convite.
Em 2003, elas voltaram a ser chamadas. Desta vez, para a criação do novo show, Zumanity, onde elas ganharam papéis sob medida. A dupla foi para Montréal, participar do workshop de preparação, até mudarem para Las Vegas, quando o show estreiou. “O Cirque du Soleil é uma medalha de ouro – para um artista circense este é o topo”, diz Li, que avisa também que a dubla não tem substitutos. De mil shows até hoje, uma perdeu quatro, outra perdeu cinco. Uma teve problema de ciso, outra de pedra de rim. “Somos muito parceiras – quando uma não está, sentimos muita falta”. Elas vivem a 30 minutos de carro do centro turística de Las Vegas, têm um cachorro e trazem os pais a cada seis meses. “Eles dão aula de circo em São Paulo”.
Ambas dizem que o Cirque du Soleil respeita os artistas e que todos formam uma grande família. Para elas, o grande aprendizado foi mostrar a sexualidade, criar personagens atraentes e ousadas. “No Brasil, a sensualidade é restrita a modelos magras. Mas este show mostra que todas as pessoas podem ser sensuais, independente da forma”, afirma Li. “Até então, nossos papéis eram infantilizados. No Brasil, não existe a idéia de que o gordo pode ser bonito, sensual, ter um namorado. Sofremos muito preconceito com isso”, diz Lu. “Quando chegamos aqui, nos deram um biquini de couro para usarmos no palco. Treinamos muito para desbloquear as inibições. E quando a gente entra no palco, o povo grita e aplaude”, acrescenta. “Se engordarmos, nosso corpo não aguenta. Se emagrecermos, perdemos o emprego”, diz Li.
Elas confessam que se sentem sexy no palco, da mesma forma que Alan, o brasileiro, anão, que faz um pas-de-deux com uma russa de estatura normal. Li e Lu, de cabelo preto, vestem duas perucas ruivas, uma delas vertical. Com cílios compridos e vestidos cintilantes, elas abrem o show oferecendo morangos à platéia, aos gritos e se jogando em cima de homens. “Muitas vezes brasileiros respondem em português”, dizem elas, que acreditam que nenhum DVD da companhia faz juz ao show. Segundo elas, o Cirque du Soleil tem de ser visto in loco. “Cada show é feito como se fosse o primeiro. Todos os shows são gravados e assistidos pelos diretores e produtores diariamente. Eles nos mostram para vermos aonde podemos melhorar”.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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