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Ivo Kos
05.agosto.2007


Tania Menai, de Nova York.

O carioca Ivo Kos, de 43 anos, trabalha com sonhos. Ele é um dos talentos por trás da Pixar, a empresa de animação que premiou o mundo com os desenhos Toy Story 1 e 2, A Bug’s Life, Monsters Inc, Procurando Nemo, Os Incríveis e o mais recente, Ratatouille. Sucesso ímpar que levou a Pixar a abocanhar 17 Oscar e ser comprada há pouco mais de um ano pela Disney por 7,4 bilhões de dólares em ações. Nenhum estúdio, antes da Pixar, bateu recordes de bilheteria seis vezes consecutivas na história do cinema. Sediada em Emmerville, perto de San Francisco, a Pixar chegou a ganhar uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) ao completar 20 anos de vida em 2005. A perfeição dos longas, produzidos por seus 800 funcionários, tem explicação: quando os diretores não ficam satisfeitos, eles refazem até acertar. A mesma equipe trabalha junto em todos os projetos. A criação dos desenhos dos personagens passa por um longo processo que respeita quatro fases: o desenvolvimento da história e do roteiro; a pré-produção que lida com os desafios tecnológicos, a produção e realização; e a pós-produção, que dá um acabamento.

Dentre as obras, há dedos de Ivo, nas áreas de iluminação, cenário e modelagem em Toy Story 2, Monsters Inc., Procurando Nemo e em Ratatouille. “Neste último, trabalhei por quatro anos somente com cenários. Foi interessante, porque tive a oportunidade de participar do desenvolvimento visual e técnico, modelagem e liderança”, diz. Ele explica que antes da computação gráfica, o mercado era mais simples. Bastava ser um excelente animador, colorista ou desenhista de cenários.Nos últimos anos o mercado se sofisticou bastante. Agora as empresas nos EUA, procuram por animadores, modeladores, texturizadores, articuladores, iluminadores, animadores de efeitos, técnicos de software, entre outros. Em geral para se entrar na indústria cinematográfica, um animador tem que ter um mestrado em computação gráfica ou experiência profissional em uma área similar como produção de vídeo ou videogames.


A amizade entre Ivo e o lápis-de-cor é antiga. Ele desenhava na mesa da escola, nas contracapas de livros, em cadernos. “Minha mãe ainda tem guardado os meus desenhos do jardim de infância. Aos três anos, eu já pintava navios, palhaços e muito mais”, lembra. No primário e ginásio ninguém escapava – Ivo fazia caricaturas dos colegas e professores. Ivo nunca estudou ilustração ou pintura. Tampouco o talento veio da família: “meu pai é contador, minha mãe é economista. A única coisa que via em casa eram livros de contabilidade e discussões sobre inflação”, brinca ele. “Fiz Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), com ênfase em desenho técnico ou gráfico”.Ainda assim a adoração por histórias em quadrinhos já existia. “Era paixão mesmo. Lia de tudo, de Almanaque da Disney a Heavy Metal. Mas eu gostava mesmo de Asterix”, revela”. Depois de formado, Ivo trabalhou na antiga Editora RioGráfica (hoje, Editora Globo) como subeditor da divisão infanto-juvenil. “Foi um sonho”. Ele ainda colaborava com ilustrações para jornais e revistas. “Eu queria mesmo era desenhar, mas achava que no Brasil seria difícil seguir uma carreira em desenho”, lembra Ivo. “Sonhava em desenhar quadrinhos na Europa ou trabalhar com animação nos EUA”. No final da década de 80 consegui uma bolsa para estudar "computer animation" na School of Visual Arts de Nova York. O mestrado abriu portas - Ivo trabalhou com o artista plástico Arakawa, desenvolvendo um parque "sensorial" no Japão. Trabalhou com o arquiteto Rafael Vinoly, e em produtoras de vídeo. Também foi líder de direção técnica do filme Matrix, fazendo a modelagem, texturas e iluminação. “Foi muito gratificante. Éramos um grupo pequeno, talvez 60, fazendo a maior parte das cenas de efeitos digitais do filme”, conta Ivo.

”Trabalhar cercado de talentos é muito estimulante”, diz Ivo. “Sempre me entusiasmo com uma idéia original, um personagem bem desenvolvido, uma técnica inesperado. Mas no cotidiano nos preocupamos em produzir, atingir as cotas, e terminar o filme dentro do orçamento”. O importante em times criativos deste porte é lembrar que os artistas, apesar de diferentes estilos, têm que se enquadrar nos projetos.“O estilo gráfico de um filme é decidido na pré-produção, na fase de desenvolvimento visual”, conta ele. Em Ratatouille, ele trabalhou com o então diretor e com o produtor por seis meses para buscar o estilo visual do filme. “Inicialmente, tentamos um estilo mais gráfico, estilizado - mas depois de muitos testes e pesquisas, o Jan preferiu um estilo mais próximo ao "claymation", ou animação com miniaturas,” diz ele que mora em San Francisco e atravessa a Bay Bridge a caminha do trabalho. “San Francisco é uma cidade linda, tranqüila e com muitas atividades culturais. E ainda temos a nossa comunidade de amigos relacionados à escola dos meus dois filhos e a Pixar”. Ivo é casado com a também carioca Nayra, e diz que seu filho Daniel, de 6 anos, adora desenhar e colorir.” Eu não ficaria surpreso se ele seguisse minha carreira”, diz. “Mas o que ele quer mesmo é mudar pro Brasil e jogar futebol no Fluminense”, brinca. “Já Julia, de 4 anos, gosta mesmo é de pintar o sete". ###


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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