Cameron Diaz
05.outubro.2007
Linda, loira, e desbocada
Em entrevista exclusiva Cameron Diaz conta como se reconhece um canalha, revela o segredo de sua forma e ensina pequenos truques: "Se você misturar ovo com qualquer coisa, isso vira café da manhã!"
Tania Menai, de Los Angeles
Era uma manhã de sexta-feira em Los Angeles quando Cameron Diaz chegou para esta entrevista, com uma enorme garrafa d’água na mão,vestindo calça jeans escura, camiseta de alcinha debaixo de um bolero bege, e uma sapatilha de lantejoulas prata – calçado que talvez ficasse brega se usado por qualquer outra mulher. Aos 35 anos, Cameron, que vive em Los Angeles, mostrou sua cara para o mundo no filme A Máscara, com Jim Carey, e ganhou o público ao fazer rir em Quem vai ficar com Mary?. Estrelou, entre outras coisas As Panteras, Sendo John Malkovich,Vanilla Sky, Shrek e As Gangues de Nova York, O Amor não tira férias e Shrek 3. Hoje, Cameron, que dirige um carro híbrido (modelo que utiliza menos combustível) e está sempre engajada a questões do meio-ambiente, ainda participa de quatro filmes em produção, The Box, What happens in Vegas e mais duas versões de Shrek. Sobre os namorados...melhor não escrever. Até o fechamento desta entrevista, qualquer informação periga a ficar desatualizada.
Em O amor não tira férias a sua personagem nos mostra a fragilidade das relações. O que você pensa sobre isso?
Acho que está cada vez mais fácil de se desligar de relações hoje. É algo mais comum, mas isso não é necessáriamente ruim. Acho que um monte de gente não deveria estar em relacionamentos (risos). Sempre me pergunto em certas situações por que eles simplesmente não terminam Então não sei se a idéia de que as pessoas devem passar o resto de suas vidas juntas funciona. É ótimo ver as pessoas que se amam, eu celebro isso, amo ver pessoas apaixonadas, pessoas crescendo juntas, fazendo suas relações funcionarem, explorando a vida juntos – isso é lindo. Todo mundo precisa fazer isso e tem de fazê-lo. Só porque as pessoas não ficam juntas a vida toda, não significa que as relações são frágeis, ou que estejam em extinção.
Talvez...
De qualquer forma, ao nos relacionarmos com alguém, crescemos e aprendemos, indepedente de quanto tempo elas duram. Nem sempre as pessoas crescem no mesmo ritmo. Mas acho que somos capazes de amar diversas pessoas de formas diferentes. Além disso, você pode ser apaixonado por alguém e não ter, necessariamente, um relacionamento romântico com esta pessoa.
Você se identificou com alguma situação vivida pelas duas personagens, Íris e Amanda, que trocam de casa e de vida entre si?
Consigo me ver nessas duas mulheres, porque a história trata da jornada humana.
Neste filme, um homem faz Iris acreditar que ele a amava – e não era verdade. Isso é de um egoísmo enorme. No entanto, Iris não amava a si própria o suficiente para fazer com que um homem a amasse de volta. Aos poucos, ela se abre para amar quem ela é. Já a minha personagem, Amanda, é super capaz, mas não se dedica a si mesmo. Ela sabe quem ela é, mas nunca se abriu para o seu lado de trazer a pessoa certa para a sua vida. Estas situações aconteceram com duas personagens, mas acho que as mulheres, e homens também, têm essas experiências em algum ponto da vida. Quando você começa a amar você mesmo e se aceitar como você é, você acaba se abrindo para a pessoa certa e passa a acreditar que o amor funciona. Acho que todo mundo passa por isso.
Sua personagem neste filme diz que ninguém tem tempo para sexo. Você concorda?
Não. Odeio essa frase – foi a única frase do roteiro que anunciei que não queria falar. Não concordo, e acho perigoso alguém pensar desta forma. É o mesmo que dizer, “opa, ninguém tem tempo para comer, ou dormir, ou beber água, ou respirar”. Sexo é uma parte essencial da vida. Aliás, esta deveria ser a frase do filme: “Quem é que tem tempo de fazer compras?” Para isso não tenho tempo, mas ganho roupas de algumas marcas.
O que você ama e detesta num homem?
Adoro senso de humor, consistência e um cara gente boa. E odeio caras babacas. Aqueles que não pensam em você, só ligam para o próprio umbigo, arrogantes, ou que não sejam engraçados. Não ligo se o cara deixa roupas jogadas pelo chão da casa (risos). Ele que cuide de sua própria vida, não sou mãe de ninguém. Por isso vivo sozinha. Minha casa é minha casa, a sua casa é a sua casa. E eu tomo conta da minha. Ah, em tempo, não namoro fumantes, nem saio com eles. Urgh, é nojento. Não poderia ter um homem desses na minha vida. Fora isso, não sou chatinha com os homens. Não me interesso em dizer para ninguém como cada um tem que viver sua vida.
Você está curtindo a fase dos 30 anos ou sente saudade dos seus 20?
Tenho 34 anos e adoro viver isso. Quando eu tinha vinte e poucos a única coisa que eu queria era passar dos 30. Não podia esperar. Pode perguntar para qualquer amiga minha e elas dirão que esse era o meu mantra. Não sei, quando se tem vinte e poucos anos, somos arrastadas para os lugares. Eu queria mais respostas e achava que nos meus trinta e poucos eu as teria. Quando eu tinha vinte e poucos vivi um pouco da adolescência, e não queria viver assim. Aos 30, quando você se comporta de certa maneira, você sabe quais serão as consequências. Você acaba tendo outras estratégias para chegar onde quer. Além do mais, todas as minhas amigas eram mais velhas, já tinham passado dos 30, então sempre quis crescer logo (risos).
E o que te faz ter essa cara de menina? Já falaram que seria lavar o rosto com água Evian...
Ah, essa história do Evian, te explico. Quando estamos filmando, aqueles trailers onde ficam os camarins têm tanques d’água enormes que abastacem os banheiros. E aquela água fica ali o dia todo, com um cheiro ruim. Então não coloco aquela água na boca, da mesma forma que a gente não escova os dentes com a água do avião, que também está ali por horas. Uso água de garrafa para limpar o rosto depois do trabalho. Em qualquer outro lugar não ligo para essas coisas, mas no trailer, uso água de garrafa (risos).
Você já pensou em trocar de casa com alguém?
Atuar é fazer mais ou menos isso. Isso é ótimo! Interpretar alguém é ainda mais do que apenas ir para a casa de alguém - temos que investir em suas emoções e experiências. Mas para trocar de casa...Pode até soar estranho e as pessoas não acreditarem em mim, mas eu gostaria de morar numa fazenda, ou em algum lugar remoto da África, ou num vilarejo. Em algum lugar que dê para ser auto-suficiente.
Você não sentiria falta de certos luxos da vida?
Não porque, no fim, eu voltaria para minha casa. Posso fazer qualquer coisa na vida, com tanto que eu saiba que não é permanente. Não sou muito boa em ter compromisso com nada. Estilo “por quanto tempo eu tenho que fazer esse trabalho? Não tenho que fazê-lo pra sempre? Ok, tô lá.”
Mas teve alguma escapada que você deu na vida, para algum lugar, que te vez ver as coisas diferente na volta?
Acredito que sempre que abrimos mão de alguma coisa, ou não tem acesso a algo que para você seja comum isso acontece. Quando vou para a Europa e volto para casa, já fico feliz em ter a privada americana de volta. É aquele pequeno detalhe, você nunca sabe o que será. É isso...eu quero a minha privada american!! Mas quando você vai para um lugar diferente, você sempre acaba apreciando o que você tem em casa. Isso não significa que você não possa viver sem. Sempre gosto de estar aonde quer que eu esteja, não gosto de ficar reclamando de nada. E, como eu disse, se não for permanente, melhor ainda.
Os diretores parecem explorar bem esse seu lado de chutes e socos, como em As Panteras. Como é esse seu lado?
Cresci na era pré-videogames. Éramos crianças que brincávamos na rua, a ordem era apenas para estar em casa antes de escurecer. Todo mundo tinha sua bicileta, skate, jogava beisbol, futebol ou qualquer coisa que nos mantinha ocupados. Então cresci de uma forma que dava ênfase a parte física. As crianças se desafiavam entre si, a gente testava quem era a mais forte, a mais rápida, quem jogava a bola mais longe ou quem agarrava melhor.
E que esportes você pratica hoje?
Surfo, faço snowboard, caminhadas e jogo golfe. Inclusive, estou evoluindo no golf. Adoro! Mas um amigo disse que ainda não jogo bem o suficiente para ficar brava. Uma vez vi uma foto minha engraçadíssima, feita por um paparazzo, onde eu estava dando um swing com um taco de golfe. Aquele era o meu melhor dia no golfe, e de repente dei uma bola fora. E o fotógrafo me pegou bem na hora em que eu gritei fazendo careta (risos) – eu estava brincando, mas, claro, foi essa foto que acabou nas páginas de revistas. Além disso, faço ginástica sempre, preciso da parte física na minha vida – faço cardio, ginástica báscia, peso...para tudo para mulheres, nada daqueles pesos para homens.
Fazer esporte com prazer e manter a forma como consequência é ótimo. Mas o que você acha das pessoas que acabam com anorexia para serem magras por ser magras?
Isso é como uma doença, é um desafio viver com isso. Eu não posso imaginar o que seja viver assim. É uma doença psicológica, emocional e física. É como o alcoolismo: uma vez que você adquire anorexia, ela toma conta de você e rouba a sua qualidade de vida. É uma luta pessoal que exige ajuda externa, e luta pessoa para dar a volta por cima. Tenho certeza que é algo super difícil de superar.
Você é ligada em celulares e afins?
Não! Inclusive, em O Amor não tira Férias, minha personagem e a da Kate Winslet têm apenas uma cena juntas, ainda assim, gravadas separadamente, quando se falam ao telefone – durante a filmagem, não falamos ao telefone de verdade, foi só brincadeirinha. Elas não tem qualquer relação entre si. Mas a Kate é demais, adoro ela. Durante as filmagens, ela me mandava torpedos de celular perguntando ‘como você está?’, ‘como estão as filmagens?’. E eu respondia, ‘meu deus, como você tem tempo pra isso? Você é casada, tem filhos! Aonde você arranja tempo para me mandar torpedos?’ Fico impressionada com essas coisas. Ela, de fato, arruma tempo para fazer isso. Eu também ficava pensando como estaria ela, como estariam as filmagens, mas nunca mandava torpedos para perguntar. Admiro as pessoas que transformam seus pensamentos em atos.
Você não é muito chegada a e-mails?
Sim, sou. Uso bastante o e-mail, mas não texto de celular. Os britânicos fazem muito isso, a Kate faz isso sempre. Eu uso blackberry.
Como é a sua relação familiar, com tantas viagens e trabalho?
Nunca passo o Natal longe da minha família. O Natal é o feriado mais importante para nós, nunca passei sozinha, mas também não me incomodaria. Acho. Talvez seria legal...evitar todos aqueles malucos! (risos) Este ano, não vou dar presentes para niguém. De qualquer forma, adoro dar presentes para minha mãe e para as mulheres da família. Costumo dar os mesmos presentes para todas, para que elas tenham algo em comum, como um colar, por exemplo.
O que te faz sentir em casa?
Nossa, viajo tanto, que vivo de bagagens. Estou sempre na estrada. Quando chego em casa, tiro uma roupa da mala e coloco outra. Mas quando chego em casa e coloco as malas no chão, sempre trago alguma coisa de onde vim, nem que seja um cinzeiro (risos). Decoro a minha casa com tudo isso. Aliás, o que diferencia a minha casa das outras é isso: você encontrar um cinzeiro do hotel L’Hermitage e do Ritz no mesmo lugar (risos).
O que te mais encanta e irrita no mundo de Hollywood?
Ser atriz é o melhor trabalho do mundo, amo fazer filmes, adoro estar cercadas de pessoas que colaboram, gente criativa. Ainda temos oportunidade de viajar além de ser capaz de afetar pessoas – sempre sorrio para as pessoas nas ruas, quando elas me reconhecem. Sei que o meu sorriso significa mais para elas do que para mim porque na verdade estou sorrindo para alguém que não conheco. São essas coisas que me fazem feliz, saber que impacto as pessoas de uma forma positiva. Mas não vou a desfiles, e coisas assim. Esses eventos me deixam perdida, porque sempre gosto de falar com todo mundo, mas não consigo lidar com um monte de gente. Prefiro estar num grupo de poucas pessoas onde posso dar atenção a todos. Para mim, as melhores férias são aquelas que sempre estou por aí pelo mundo, na natureza, caminhando, surfando - passo tanto tempo rodeada por pessoas que este seria ideal estar num lugar onde posso estar livre de tudo isso.
Você é ligada às causas do meio-ambiente e foi uma das primeiras celebridades, como Leonardo DiCaprio e Jack Nicholson, a dirigir um carro híbrido. Por que?
Comprei o primeiro modelo. Isso faz sentido para mim. Dirijo por Los Angeles o dia todo. E quando ouvi falar de um carro que me permitiria dirigir o tempo todo sem ter que usar metade da gasolina que eu usaria normalmente. Por que usar mais de um produto que você não precisa. E é um ótimo carro. Especialmente em Los Angeles, você está sempre no carro – em Nova York também, você entra e sai do táxi o dia todo.
Seus dias devem ser corridos, não?
Não há um dia típico na minha vida, cada dia é diferente. E isso é o típico. Uma coisa que tenho manter sempre é o café-da-manhã e a ginástica. Isso eu sempre tento acomodar na agenda. Sempre como café-da-manhã. Sempre como a mesma coisa durante uma fase, depois mudo. Agora, por exemplo, é o resto de comida do dia anterior. Acredito que se você misturar ovo com qualquer coisa isso vira café-da-manhã. Como de tudo, menos insetos. Adoro cozinhar, não sou vegetariana, como tudo aquilo.
Qual foi a reação dos seus amigos quando, certa vez, você apareceu de cabelos castanhos?Sempre me senti morena. Meus amigos gostaram, acham que tem a ver comigo. Por muito tempo nem pensei nisso, mas, na verdade, já fiquei morena há uns dez ou oito anos, e de cara senti que aquilo era mais natural para mim. Depois voltei a ser loira para fazer Charlie Angels. Mas, desde voltei a pensar nisso – até que um dia acordei e disse, é isso, quero ser morena.
As pessoas te reconhem menos por causa disso?Não, elas estão me reconhecendo igualzinho (risos).
Você acredita em destino?
Bastante, 100%. Acredito que tudo acontece por alguma razão, estamos em algum lugar e hora exatamente aonde devamos estar. Quando alguém está dirigindo bem devagar na minha frente, penso logo: “tem alguma razão para esse cara estar dirigindo assim na frente do meu carro.” É mais fácil para mim render a esta idéia. Não que isso impeça alguma ambição, ou vontade de querer estar em algum lugar, com alguma pessoa ou realizar alguma coisa - mas é uma forma de pensar que não podemos ir contra algo pré-determinado pelo universo. Gosto disso, porque nunca sei o que acontecer em seguida, é como uma aventura (risos).
E os sonhos?
Estou sempre sonhando. Esta manhã, acordei e estava no Japão. E sabe o que eu estava fazendo? Tinha esquecido de colocar o rímel! Esses sonhos são amedrontadores (risos).
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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