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Amy Novogratz
01.outubro.2011
Tania Menai, de Nova York
Era uma ensolarada tarde de sexta-feira, quando Amy Novogratz abriu a porta de um belíssimo estúdio de fotografia, num endereço secreto no SoHo, para nos receber. Teto alto, janelas imensas, computadores Apple por toda parte, e, contrastando com aquela realidade, uma megafoto de uma favela carioca figurando em uma das paredes. Em seu rosto, um sorriso de orelha a orelha. Ela orgulhosamente apresentou a equipe do estúdio e contou sobre o projeto em andamento. Sua paixão era aparente. Difícil de acreditar, no entanto, que o projeto não era seu. Muito menos o estúdio. O espaço e os cliques mirabolantes são do francês JR, que exibe sua fotografia, sempre revelada em larga escala, nos “museus” mais improváveis: favelas brasileiras, bairros palestinos e cantos miseráveis da África. Os modelos são gente das próprias comunidades. No ano passado, JR foi premiado com o TED Prize. Encabeçado por Amy, os vencedores deste prêmio são escolhidos anualmente, a pente-fino e sem marmelada: “eles tem de ser personagens carismáticos, empreendedores, inspiradores e terem uma visão global”, diz Amy. Aos 37 anos, ela viu a iniciativa nascer em 2004; o primeiro vencedor, em 2005, foi o cantor e ativista irlandês Bono. De lá para cá a lista dos 16 expoentes inclui o chef britânico Jamie Oliver, que luta por uma reeducação alimentar nos Estados Unidos, e o ex-presidente americano Bill Clinton. O próximo nome será escolhido dentro de um mês.
O Ted Prize faz parte da organização TED, sediada em Nova York com uma equipe de 20 pessoas. Duas vezes ao ano, eles promovem encontros onde 60 palestrantes internacionais das áreas de tecnologia, entretenimento e design (daí o nome TED), sobem no palco para dividir suas idéias: uma em Long Beach, na Califórnia, no primeiro semestre e em Edimburgo, na Escócia, no meio do ano. Estas palestras são gravadas e postas online. A primeira conferência aconteceu em 1984, quando a platéia nem sonhava com internet. Hoje, o TED já celebra os 500 milhões de palestras assistidas online planeta afora, gratuitamente. “Cada um tem 18 minutos, ou menos, para falar – dizemos que é a palestra da vida deles”, conta Amy, que recentemente, recupera-se de uma delicada cirurgia, sem perder o brilho nos olhos. A organização é mantida por uma fundação, além de cobrar ingresso nas conferências e contar com publicidade online. O sucesso tem se replicado em outras partes do mundo, por meio do TEDx, conferencias organizadas por entusiastas, com apoio da equipe fixa do TED. Eventos assim já aconteceram em 15 cidades brasileiras. “Organizamos também o TED Women, em dezembro passado, para mostrar o que as mulheres extraordinárias fazendo projetos incríveis,” conta.
A cada ano, Amy e sua equipe de cinco pessoas deparam-se com cerca de cem candidatos; as indicações são alheias. O escolhido recebe 10 mil dólares e o direito de fazer um pedido, para o qual este dinheiro será aplicado. Mas a coisa não pára por aí: o TED cria uma página para o projeto, lista as necessidades e a paixão do vencedor. A ajuda vem de ilustres desconhecidos, que se apaixonam junto e abrem a mão, o bolso ou a cabeça: acabam doando mais dinheiro, trabalho probono e até espaços como o estúdio de JR. “A gente telefona para o escolhido e anuncia o prêmio. Alguns deles, nem sabiam o que era o TED. Perguntavam: ‘quem é esse cara?’, ri Amy. “Hoje a gente não precisa mais se apresentar”, diz ela, saboreando um café gelado, descafeinado, com leite de soja. A partir do momento em que o profissional recebe seu prêmio e escolhe seu desejo, este desejo entra na vida de Amy sem data para sair. Seu dia começa cedo e acaba dezenas de telefonemas e reuniões mais tarde, batalhando por cada detalhe. Para Jamie Oliver, por exemplo, o TED Prize colocou um ônibus-teatro nas estradas dos EUA para ensinar crianças sobre alimentação saudável. Já o sonho de Sylvia Earl, é dar voz ao oceano, para que os seres humanos passem a respeitá-lo. O TED organizou uma viagem de 100 pessoas peso-pesado e 25 palestrantes para Galápagos, para chamar atenção sobre o assunto. Bill Clinton pediu ajuda para Ruanda – hoje, a cidade mais miserável de lá, já dispões de um hospital bem equipado e 400 profissionais de saúde treinados.
Quando mais um premiado aparece, não pense que Amy abandona os demais – o coração da moça é de mãe. Ela vai acumulando o sonho dessa gente que pensa grande, seja na área religiosa ou acadêmica, acorda falando sobre corais, e dorme pensando em escola pública. “No começo premiávamos três pessoas anualmente. Mas o nosso envolvimento com cada um é tanto, que hoje escolhemos um só.” No site, Amy mantém o internauta informado sobre os andamentos de cada projeto. Sem dúvida, ela é a pessoa certa para dirigir e manter um prêmio deste. Colunista do jornal Huffington Post, ela começou a carreira produzindo documentários para TV – canais como Disney, Nickelodeon e MTV - e abrindo o microfone para crianças carentes, algumas com HIV, por exemplo. Essa experiência culminou no programa de televisão e internet “Chat the Planet”, onde crianças discutiam de política a sexo. Amy também viveu em Washington DC, onde trabalhou em uma ONG de ativismo social. “Quando o TED mudou seu escritório para Nova York, imediatamente bati na porta. Para cá, eu trouxe minha experiência em terceiro setor, em mídia e em conectar pessoas”, revela ela, que brevemente realizará seu próprio desejo: dizer sim ao seu noivo.
# # #FIM.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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