Todas as entrevistas

Outras entrevistas de: Revista LOLA

- Leona Forman
- Amy Novogratz
- Edith Bertoletti

Marcos Cohen
02.janeiro.2012

Projeto Manhattan


Tania Menai, de Nova York


Em novembro passado, o banqueiro americano Sanford Weill colocou seu puxadindo `a venda: o comprador deveria desembolsar 88 milhões de dólares pela cobertura do almejado endereço 15 Central Park West. O apartamento ficou apenas duas semanas no mercado. Foi adquirido por um célebre anônimo. Em tempo: em 2007, Weill pagou “apenas” 43,7 milhões pela propriedade, metade do valor pelo qual vendeu. “Quem espera o mercado imobiliário nova-iorquino despencar para comprar um apartamento, fica sem nada”, alerta o corretor carioca Marcos Cohen, 47 anos, que trabalha há quase 20 na Douglas Elliman, uma das maiores imobiliárias do país. “Antes de os preços das moradias desabarem, a qualidade de vida precisa desabar, o sistema de transporte precisa desabar – e isso não acontece em Nova York. A qualidade de vida aqui está tinindo”, diz ele, lembrando que nem 11 de setembro, muito menos o escândalo do banco Lehman Brothers machucou o setor.

Cohen sabe do que fala: em 2010 ele foi condecorado segundo melhor corretor de sua empresa – que contabiliza 4 mil funcionários - e o quinto dos Estados Unidos. Apesar de os preços dos imóveis manterem-se intactos, o que muda são os compradores: com a crise econômica assolando os Estados Unidos desde 2008, brasileiros, russos e chineses tem engrossado o time dos tradicionais compradores europeus e canadenses. “Muita gente que não consegue mais pagar um apartamento em São Paulo ou Rio de Janeiro, está comprando em Miami ou em Nova York”, conta Cohen, tomando um café no Mangia, na rua 57. “Há poucos anos, Miami somava 25 mil propriedades `a venda. Hoje, dispõe de 12 mil – a maior parte dos compradores foram os russos e os brasileiros,” conta ele, que só opera na região e Manhattan e mantém sua lista de compradores brasileiros – muitos deles conhecidíssimos - em extremo sigilo. Por ano, ele vende algo entre 40 e 100 milhões de dólares em propriedades – e fica com 1% de comissão.

Além de bom negociador, Cohen é um exímio conhecedor da arquitetura dos prédios nova-iorquinos e do sistema ímpar de moradia da cidade. No entanto, uma das tarefas mais árduas para o corretor é explicar para a clientela brasileira que Nova York não é Brasil. “Tenho clientes que sonham com garagem e apartamentos de três ou quarto quartos em plena Manhattan”, conta ele. “Repito que os prédios daqui não tem garagens, mas sempre há garagens comerciais por perto”, ensina. “E para obter quartos extras, os americanos acabam abocanhando o apartamento do vizinho de porta – esta é uma cidade onde se vive, normalmente, em dois quartos”. Cohen diz que o típico comprador brasileiro gosta de prédios novinhos e com amenidades, como academia de ginástica. Eis ai outro obstáculo: estes prédios são raros. Com muita lábia, Cohen consegue levá-los para prédios mais antigos, com pé direito alto e o charme da arquitetura centenária, fazendo com que muitos se apaixonem por esta opção.

“A ilha de Manhattan tem apenas 22 quilômetros. Não há muito para onde crescer – os prédio novos são pouquíssimos. Além disso, 80% da moradia funciona em sistema de cooperativas”, explica ele. Isso significa que o novo morador tem de ser aprovado – financeiramente e socialmente – pelos demais moradores do prédio. E isso não acontece com candidatos estrangeiros. Resta, então, sonhar com os 20% dos prédios de Manhattan, que funcionam como condomínios, ou “condos”, cujos apartamentos podem ser comprados por qualquer um com bala na agulha. “A maior parte dos brasileiros pagam o valor total em cash, por não terem histórico de crédito nos EUA”, comenta o corretor. E por cash, entende-se uma media de 1,6 milhão de dólares por um dois quartos na ilha da fantasia.

Cohen conta ainda que há alguns anos, seus clientes brasileiros tinham um perfil pré-estabelecido: diplomatas, publicitários e banqueiros com filiais em Nova York, pais comprando pequenos apartamentos para seus filhos estudantes. “Hoje, não existe mais regra. Basta ter dinheiro,” revela ele, acrescentando que os recordes são públicos. Todo mundo sabe quem compra e quem vende em Nova York. “Os famosos anônimos, são aqueles que deixam suas propriedades em nome de empresas, para driblar o imposto de 55% de transmissão para os filhos, em caso de morte,” diz. “Muitas vezes, só descubro para quem estou trabalhando, depois da entrega das chaves.”

Cohen gosta de contar que esteve com a presidente Dilma por 5 minutos há alguns meses em visita `as Nações Unidas. “Disse a ela que me dá muito orgulho ao ver que as lojas mais luxuosas de Nova York já tem funcionários falando português para atender `a demanda de turistas brasileiros”, conta ele que vive na cidade desde 1987. “Nunca vi o Brasil tão reverenciado quando nos últimos dois anos”. Ele aproveita para anunciar, então, que uma cobertura de 100 milhões de dólares será posta a venda no novo empreendimento sendo erguido em frente ao templo de espetáculos Carnegie Hall, com singela vista para o Central Park. Quando vendido, o pied-`a-terre quebrará mais um recorde no mercado imobiliário que nunca dorme. Algum anônimo brasileiro interessado?

# # #


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

---

voltar