Todas as entrevistas
Outras entrevistas de: Revista LOLA
- Marcos Cohen
- Amy Novogratz
- Edith Bertoletti
|
Leona Forman
01.abril.2012
Cidadã do Mundo
Tania Menai, de Nova York
Sorriso doce, olhos azuis, cabelos brancos. Para muitos nova-iorquinos, este é o rosto da Brazil Foundation, uma fundação sediada em Manhattan que em seus dez anos de existência já arrecadou mais de 18 milhões de dólares e apoiou mais de 300 projetos sociais no Brasil nas áreas de educação, saúde, cidadania, Direitos Humanos e cultura. A dona deste rosto é Leona Forman, 71, uma, digamos, chinesa-russa-judia-nova-iorquina-carioca, que teve o dom de plantar nos brasileiros residentes nos Estados Unidos, algo que eles não herdaram da terra natal: a veia da filantropia. Para se ter uma idéia, as festas de gala da fundação, que acontecem a cada setembro, em lugares como o Metropolitan Museum ou a Biblioteca Pública de Nova York, já reuniu nomes como os estilistas Valentino e Francisco Costa, modelos como Gisele e Alessandra Ambrósio, Raí, Luciano Hulk, Ronaldo Fenômeno, Raí, Vik Muniz e o diretor de cinema Carlos Saldanha. Isto sem contar com a inúmera lista de empresários peso pesados.
No entanto, o barato de Leona não é o glamour, nem os paetês. Sua paixão é devolver ao Brasil, o que o país fez por ela. Neta de russos judeus, seu avô saiu da Rússia com a jovem família (o pai de Leona tinha 2 anos) na virada do século passado, fugindo da falta de oportunidade profissional que os judeus enfrentavam na época. Acharam refúgio em Teinjin, na China, onde Leona, seu irmão e irmã nasceram e estudaram. A língua em casa era o russo e na escola – judaica – era o inglês. A Revolução Chinesa fechou a escola judaica e eles passaram para uma escola russa. Sua irmã, partiu para Israel, onde, mais tarde, conheceu e casou-se com um brasileiro. Para o pai de Leona, foram oferecidos três países abertos para refugiados: Austrália, Israel e Brasil. O terceiro foi eleito por duas razões: o tio de Leona morava em Nova York (“América é América”) e a irmã de Leona estava se mudando para lá com o marido. “A viagem entre Hong Kong e Rio de janeiro levou 40 dias de navio. Fiz treze anos na África do Sul”, recorda Leona.
A família desembarcou no Rio em 1953. “Minha vida foi marcada por vivências em várias culturas. Sempre observei como as pessoas se adaptavam `as diferentes circunstâncias. Por isso, eu sonhava em ser diplomata”, diz ela, que vive em um apartamento no Upper West Side, recheado de artesanato brasileiro. A diplomacia ficou no sonho: Leona não era brasileira, algo exigido para a carreira. Então ela optou pelo jornalismo, acreditando que a comunicação também pode mudar o mundo. Estou no Brasil, na Universidade de Columbia, em Nova York, e também na França. De volta ao Rio, trabalhou nas redações do Jornal do Brasil e de O Globo. “Nas décadas de 50 e 60, o Brasil reconhecia os talentos – sempre fui bolsista. Hoje competição é bem maior”, afirma. “Aproveitei todas estas oportunidades até casar com um antropólogo americano, e mudar para os Estados Unidos em 1967”, conta. Leona sorri ao falar que comemora seus 44 anos de casada, premiada com um casal de filhos. Em 1981, ela ingressou no secretariado da ONU, trabalhando para a equipe brasileira, por quase 20 anos. E foi esta experiência que a expôs ao mundo das ONGs.
“Percebi que as ONGs tinham a flexibilidade que faltavam nos governos e no setor privado – e que, infelizmente, elas tinha muito menos recursos para atuar em suas comunidades”. Quando se aposentou, em novembro do ano 2000, Leona juntou-se com o jovem advogado Marcello Hallake, em Nova York, e com a pesquisadora e curadora em artes carioca Susane Worcman. O trio judaico plantou a semente da Brazil Foundation. A primeira reunião contou com 17 jovens brasileiros profissionais residentes na cidade. E essas reuniões, sempre na casa de Leona ou de algum outro participante, foram agregando cada vez mais interessados. “Promovíamos palestras na minha casa, chamando representantes do terceiro setor do Brasil para contar sobre seus projetos. Desta forma, conectamos os nova-iorquinos com aquela realidade e criamos o que a fundação tem de mais precioso: a confiança”. O primeiro a palestrar foi Cristovam Buarque. Também passaram nomes como o AffroRegae e Rodrigo Baggio, do CDI, alem do preferido de Leona: o conservacionista Marcio Ayres. “Aquela foi última vez em que ele falou em público, antes de falecer precocemente de câncer”. Leona também agregou nomes de peso no conselho da fundação, entre eles Dona Ruth Cardoso de Mello. “Ela ficou conosco até o fim da vida - e ainda não teve o reconhecimento que merece no Brasil”, lamenta Leona.
Hoje, ela orgulha-se de ter passado o dia-a-dia da fundação para a mão de uma geração mais nova, que trabalha na sede da fundação em Manhattan – e também no escritório do Rio. Enquanto isso, Leona está mergulhada no Fundo Carioca, um projeto que nasceu há dois anos para profissionalizar jovens de 14 a 24 anos no Rio. “Vamos receber 10 mil jovens estrangeiros dedicados ao esporte durante as Olimpíadas. Estaremos focados neles. Mas temos 200 mil que não tem nenhuma oportunidade”, diz ela, que está passando uma temporada em Copacabana para alavancar o projeto agregando empresas e moradores da cidade. Lembrando que as grandes fundações americanas abandonaram o Brasil para focar no Caribe e na África, ela diz que o novo poder econômico brasileiro é assunto de todas as rodas. Mas que “ainda existe um Brasil que precisa de muita ajuda”. “Accountability (algo como prestação de contas) é uma palavra em inglês sem tradução para português. E convivência também não se traduz para o inglês. Mas as duas palavras juntas geram desenvolvimento sustentável”, complementa.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
---
voltar |



|